quarta-feira, 31 de agosto de 2011

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Confiar em Deus como Jesus confiava

       "O encontro com Jesus não é fruto da investigação histórica nem da reflexão doutrinal. Ele acontece somente através de uma adesão interior e de um seguimento fiel. Começamos a encontrar-nos com Jesus no momento em que começamos a confiar em Deus como Ele confiava, quando cremos no amor como Ele cria, quando nos aproximamos dos que sofrem como Ele aproximava, quando defendermos a vida como Ele a defendia, quando olhamos para as pessoas como Ele olhava, quando enfrentarmos a vida e a morte com a esperança com que Ele a enfrentava, quando contagiarmos a Boa Notícia como Ele a contagiava".

José António PAGOLA, Jesus. Uma abordagem histórica, Gráfica de Coimbra 2: 2008.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Homilia de Bento XVI na JMJ 2011

Homilia do Papa Bento XVI na Eucaristia de Encerramento das Jornadas Mundiais da Juventude, em Madrid, 21 de Agosto de 2011
       Queridos jovens,
       Com a celebração da Eucaristia, chegamos ao momento culminante desta Jornada Mundial da Juventude. Ao ver-vos aqui, vindos em grande número de todas as partes, o meu coração enche-se de alegria, pensando no afecto especial com que Jesus vos olha. Sim, o Senhor vos quer bem e vos chama seus amigos (cf. Jo 15, 15). Ele vem ter convosco e deseja acompanhar-vos no vosso caminho, para vos abrir as portas duma vida plena e tornar-vos participantes da sua relação íntima com o Pai. Pela nossa parte, conscientes da grandeza do seu amor, desejamos corresponder, com toda a generosidade, a esta manifestação de predilecção com o propósito de partilhar também com os demais a alegria que recebemos. Na actualidade, são certamente muitos os que se sentem atraídos pela figura de Cristo e desejam conhecê-Lo melhor. Pressentem que Ele é a resposta a muitas das suas inquietações pessoais. Mas quem é Ele realmente? Como é possível que alguém que viveu na terra há tantos anos tenha algo a ver comigo hoje?
       No evangelho que ouvimos (cf. Mt 16, 13-20), vemos representadas, de certo modo, duas formas diferentes de conhecer Cristo. O primeiro consistiria num conhecimento externo, caracterizado pela opinião corrente. À pergunta de Jesus: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?», os discípulos respondem: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas». Isto é, considera-se Cristo como mais um personagem religioso junto aos que já são conhecidos. Depois, dirigindo-se pessoalmente aos discípulos, Jesus pergunta-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro responde formulando a primeira confissão de fé: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». A fé vai mais longe que os simples dados empíricos ou históricos, e é capaz de apreender o mistério da pessoa de Cristo na sua profundidade.
       A fé, porém, não é fruto do esforço do homem, da sua razão, mas é um dom de Deus: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu». Tem a sua origem na iniciativa de Deus, que nos desvenda a sua intimidade e nos convida a participar da sua própria vida divina. A fé não se limita a proporcionar alguma informação sobre a identidade de Cristo, mas supõe uma relação pessoal com Ele, a adesão de toda a pessoa, com a sua inteligência, vontade e sentimentos, à manifestação que Deus faz de Si mesmo. Deste modo, a pergunta de Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?», no fundo está impelindo os discípulos a tomarem uma decisão pessoal em relação a Ele. Fé e seguimento de Cristo estão intimamente relacionados.
       E, dado que supõe seguir o Mestre, a fé tem que se consolidar e crescer, tornar-se mais profunda e madura, à medida que se intensifica e fortalece a relação com Jesus, a intimidade com Ele. Também Pedro e os outros apóstolos tiveram que avançar por este caminho, até que o encontro com o Senhor ressuscitado lhes abriu os olhos para uma fé plena.
        Queridos jovens, Cristo hoje também se dirige a vós com a mesma pergunta que fez aos apóstolos: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Respondei-Lhe com generosidade e coragem, como corresponde a um coração jovem como o vosso. Dizei-Lhe: Jesus, eu sei que Tu és o Filho de Deus que deste a tua vida por mim. Quero seguir-Te fielmente e deixar-me guiar pela tua palavra. Tu conheces-me e amas-me. Eu confio em Ti e coloco nas tuas mãos a minha vida inteira. Quero que sejas a força que me sustente, a alegria que nuca me abandone.
       Na sua reposta à confissão de Pedro, Jesus fala da sua Igreja: «Também Eu te digo: Tu é Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja». Que significa isto? Jesus constrói a Igreja sobre a rocha da fé de Pedro, que confessa a divindade de Cristo. Sim, a Igreja não é uma simples instituição humana, como outra qualquer, mas está intimamente unida a Deus. O próprio Cristo Se refere a ela como a «sua» Igreja. Não se pode separar Cristo da Igreja, tal como não se pode separar a cabeça do corpo (cf. 1 Cor 12, 12). A Igreja não vive de si mesma, mas do Senhor. Ele está presente no meio dela e dá-lhe vida, alimento e fortaleza.

       Queridos jovens, permiti que, como Sucessor de Pedro, vos convide a fortalecer esta fé que nos tem sido transmitida desde os apóstolos, a colocar Cristo, Filho de Deus, no centro da vossa vida. Mas permiti também que vos recorde que seguir Jesus na fé é caminhar com Ele na comunhão da Igreja. Não se pode, sozinho, seguir Jesus. Quem cede à tentação de seguir «por conta sua» ou de viver a fé segundo a mentalidade individualista, que predomina na sociedade, corre o risco de nunca encontrar Jesus Cristo, ou de acabar seguindo uma imagem falsa d’Ele.
       Ter fé é apoiar-se na fé dos teus irmãos, e fazer com que a tua fé sirva também de apoio para a fé de outros. Peço-vos, queridos amigos, que ameis a Igreja, que vos gerou na fé, que vos ajudou a conhecer melhor Cristo, que vos fez descobrir a beleza do Seu amor. Para o crescimento da vossa amizade com Cristo é fundamental reconhecer a importância da vossa feliz inserção nas paróquias, comunidades e movimentos, bem como a participação na Eucaristia de cada domingo, a recepção frequente do sacramento do perdão e o cultivo da oração e a meditação da Palavra de Deus.
       E, desta amizade com Jesus, nascerá também o impulso que leva a dar testemunho da fé nos mais diversos ambientes, incluindo nos lugares onde prevalece a rejeição ou a indiferença. É impossível encontrar Cristo, e não O dar a conhecer aos outros. Por isso, não guardeis Cristo para vós mesmos. Comunicai aos outros a alegria da vossa fé. O mundo necessita do testemunho da vossa fé; necessita, sem dúvida, de Deus. Penso que a vossa presença aqui, jovens vindos dos cinco continentes, é uma prova maravilhosa da fecundidade do mandato de Cristo à Igreja: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura» (Mc 16, 15). Incumbe sobre vós também a tarefa extraordinária de ser discípulos e missionários de Cristo noutras terras e países onde há multidões de jovens que aspiram a coisas maiores e, vislumbrando em seus corações a possibilidade de valores mais autênticos, não se deixam seduzir pelas falsas promessas dum estilo de vida sem Deus.
       Queridos jovens, rezo por vós com todo o afecto do meu coração. Encomendo-vos à Virgem Maria, para que Ela sempre vos acompanhe com a sua intercessão materna e vos ensine e fidelidade à Palavra de Deus. Peço-vos também que rezeis pelo Papa, para que, como Sucessor de Pedro, possa continuar confirmando na fé os seus irmãos. Que todos na Igreja, pastores e fiéis, nos aproximemos de dia para dia sempre mais do Senhor, para crescermos em santidade de vida e darmos assim um testemunho eficaz de que Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus, o Salvador de todos os homens e a fonte viva da sua esperança. Amen.

sábado, 27 de agosto de 2011

XXII Domingo do Tempo Comum - 28 de Agosto

       1 – A nossa profissão de Fé, audível na resposta de Pedro à pergunta de Jesus – "E vós quem dizeis que Eu sou? –, "Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo", levar-nos-á à missão, ao compromisso com aquilo que professamos, ou melhor, ao seguimento d’Aquele que reconhecemos, acolhemos e amamos como Filho de Deus.
       Pedro recebe de imediato a missão de confirmar na fé todos os seus irmãos, no céu e na terra. É uma missão que o implica com Jesus e com o facto d'Ele ser, não um homem entre os homens, mas Filho de Deus vivo, Deus connosco, Deus feito homem. Pedro realizará não o que lhe dá na real gana, o que é mais fácil ou conveniente em cada situação, mas é chamado a realizar, nas suas palavras e gestos, a vontade de Deus, expressa através de Jesus Cristo, no Espírito Santo.
       Com esta Pedro não estava a contar. Diga-se, em abono da verdade, que ele não sabia exactamente o que significava a confissão de fé que faz acerca de Jesus, porque logo confunde tudo...
       "Jesus começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, tomando-O à parte, começou a contestá-l’O, dizendo: «Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de acontecer!» Jesus voltou-Se para Pedro e disse-lhe: «Vai-te daqui, Satanás. Tu és para mim uma ocasião de escândalo, pois não tens em vista as coisas de Deus, mas dos homens»".
        Pedro, tal como os outros discípulos ainda esperavam que o reino de Jesus, o reino de Deus, fosse mais humano e terreno, com benesses para os primeiros e principais seguidores. No entanto, se dúvidas havia, ficam desfeitas. O filho do homem vai ser morto. Mas nem assim deixará de cumprir a sua missão, sancionada com a ressurreição. Por ora os discípulos fixam-se apenas na parte negativa, a da morte de Jesus. Se tudo parasse na morte, então sim, tudo estaria perdido para sempre.

       2 – Com efeito, como o nosso próprio nome indica somos cristãos, isto é, somos de Cristo, identificamo-nos com Ele, até pelo nome, mas sobretudo com a nossa vida. Não nos pregamos a nós, mas a Ele, o Filho de Deus. Não O seguimos porque um dia nos apeteceu, é Ele que nos chama, que vem ao nosso encontro, que nos desperta, que abre as portas da eternidade, fazendo-Se homem entre os homens, assumindo a nossa fragilidade e finitude, morrendo como nós, e pela ressurreição reintroduz-nos em Deus, na eternidade divina, eleva-nos aos Céus.
       Como escutávamos no profeta Jeremias: "Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir; Vós me dominastes e vencestes". Sendo que esta vitória de Deus é para nossa salvação (e não uma derrota nossa).
       Se o chamamento parte de Deus, a missão terá a ver com Deus (que sempre nos inclui), com a realização da Sua vontade. Esse é o propósito da vinda de Jesus até nós e que hoje, uma vez mais, o Evangelho faz eco:
       "Jesus disse então aos seus discípulos: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Porque, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? O Filho do homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus Anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras»".

       3 – Acreditar em Jesus como Filho de Deus, levar-nos-á a escutar o seu chamamento. Acreditar em Jesus implica que O sigamos. Não é uma opção acessória, secundária. Implica a nossa vida toda. Implica que gastemos tempo e energias, na certeza que seremos compensados no tempo e na história e também para a eternidade de Deus.
       Seguir Jesus implica renunciarmos aos nossos egoísmos, ao comodismo, àquilo que é mais conveniente, para prosseguirmos o bem, a verdade, a justiça, o amor sem limites, precisamente imitando-O em tudo e em toda a parte.
       Como bem Ele nos lembra, de nada nos adianta ganharmos o mundo inteiro se não usufruirmos a beleza da vida, o encanto do amor, a alegria da partilha, a festa de darmos o melhor de nós mesmos e nos descobrirmos e encontrarmos como irmãos, como filhos bem amados do Seu e nosso Pai.
       No fundo e como nos lembra o Apóstolo, seguir Jesus com toda a nossa vida: "Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós mesmos como vítima santa, viva, agradável a Deus, como culto racional. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela renovação espiritual da vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito".
       Não nos é pedido muito, é-nos pedido tudo, a nossa vida, com todas as dimensões, para que mais cedo ou mais tarde seja Ele a viver em nós e através de nós, nas nossas palavras, nos nossos gestos, nas nossas obras, em toda a nossa vida.

Textos para a Eucaristia (ano A): Jer 20,7-9; Rom 12,1-2; Mt 16,21-27.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

As melhores imagens da JMJ 2011

       As melhores imagens da JMJ 2011, em Madrid, e como música de fundo o respctivo hino destas Jornadas:

JMJ 2011: Uma Igreja que não se rende

Quatro dias em Madrid para que Bento XVI apelasse ao compromisso das novas gerações de católicos, ainda que em cenários de hostilidade

       Bento XVI encerrou hoje uma visita de quatro dias a Madrid, durante a qual insistiu na necessidade de uma geração sem “medo” de se assumir católica face à “cultura relativista dominante”, à indiferença e mesmo hostilidade de muitos.
        Os milhões de jovens que terão passado pelas diversas atividades religiosas, lúdicas e culturais da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), na capital espanhola, podem ler em casa uma mensagem que a chuva tirou da boca do Papa, na vigília de sábado: “Que nenhuma dificuldade vos paralise. Não tenhais medo do mundo, nem do futuro”.
       Por mais de uma vez, Bento XVI convidou a nova geração de católicos a não “desanimar com as contrariedades que, de diversos modos, se apresentam nalguns países”.
       Sem qualquer referência aos incidentes de contestação que rodearam a visita a Madrid, consideradas “marginais” pelo Vaticano, o Papa apontou como prioridade dar “testemunho da fé” nos mais diversos ambientes, incluindo nos lugares onde prevalece a “rejeição ou a indiferença”.
       Falando em português, como fez várias vezes, admitiu que os católicos se podem sentir em “contracorrente no meio duma sociedade onde impera a cultura relativista que renuncia a buscar e a possuir a verdade”.
       Por diversas vezes, Bento XVI apelou a uma presença junto dos “menos favorecidos” e defendeu uma compreensão diferente do “sofrimento”, tanto na via-sacra nas ruas de Madrid como valorizando os jovens portadores de deficiência como aqueles que fazem nascer gestos de “ternura”.
       “Por Cristo, sabemos que não estamos a caminhar para o abismo, para o silêncio do nada ou da morte, mas seguindo para a terra prometida”, diria aos seminaristas.
       Num encontro com milhar e meio de religiosas indicou, por outro lado, que “face ao relativismo e à mediocridade, surge a necessidade desta radicalidade que testemunha a consagração como uma pertença a Deus”.
       Aos professores universitários, com quem se encontrou pela primeira vez num contexto de JMJ, falou dos “abusos duma ciência que não reconhece limites para além de si mesma”.
       Foi também uma JMJ com marca portuguesa, com a presença recorde de 12 mil participantes, para lá da assumida candidatura a organizar um evento deste género a médio prazo.
        O encontro entre 17 bispos e os peregrinos lusos deixou diversos apelos a um compromisso em favor do “bem comum”, do esforço urgente e necessário para superar a atual crise - económica, mas também de valores – que atinge o país, no entender dos responsáveis da Igreja Católica.
       No final, a Jornada de Madrid fica como um momento de esperança de uma geração que não se rende perante sinais de desnorte e mesmo descarrilamento social que chegavam dos recentes motins do Reino Unido ou dos atentados da Noruega, para além das pesadas consequências do desgoverno financeiro internacional, sobretudo no aumento da precariedade e do desemprego.
       Apesar do pouco tempo que, em 79 horas, o Papa passou entre os jovens, a nova geração ‘JMJ’ respondeu presente e nem o calor, o pó, o cansaço, a chuva ou o vento conseguiram travá-la, sendo justo, por isso, o que disse Bento XVI após a tempestade da vigília de sábado: “Vivemos uma aventura juntos”.

Octávio Carmo, in Agência ECCLESIA, em Madrid

JMJ 2013: no Rio de Janeiro - Brasil


domingo, 21 de agosto de 2011

Bento XVI aos jovens: não se pode seguir a Cristo sozinho...

Bento XVI e os jovens em missão num mundo de rejeição

       Madrid, 21 ago 2011 (Ecclesia) – Bento XVI apelou hoje aos jovens católicos de todo o mundo para que testemunhem a sua fé publicamente, mesmo em “lugares onde prevalece a rejeição ou a indiferença”.
       O Papa falava na homilia da missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2011, no aeródromo madrileno de Cuatro Vientos, onde se encontram mais de um milhão e meio de jovens.
       Retomando uma ideia já apresentada durante a visita de quatro dias à capital espanhola, iniciada quinta-feira, Bento XVI alertou contra a “mentalidade individualista que predomina na sociedade”, frisando que os jovens correm “o risco de nunca encontrar Jesus Cristo, ou de acabar seguindo uma imagem falsa dele”.
       “São certamente muitos os que se sentem atraídos pela figura de Cristo e desejam conhecê-Lo melhor. Pressentem que Ele é a resposta a muitas das suas inquietações pessoais. Mas quem é Ele realmente? Como é possível que alguém que viveu na terra há tantos anos tenha algo a ver comigo hoje?”, questionou.
       O espaço de Cuatro Vientos, onde João Paulo II esteve em 2003 na sua última viagem a Espanha, foi alargado pela organização do evento, após ter sido completamente lotado este sábado pelos participantes na JMJ, vindos de mais de 130 países.
       Bento XVI, que lembrou o pouco tempo de descanso que os jovens tiveram, nestes dias, disse que “a fé vai mais longe que os simples dados empíricos ou históricos, e é capaz de apreender o mistério da pessoa de Cristo na sua profundidade”, frisando que “a fé não é fruto do esforço do homem, da sua razão, mas é um dom de Deus”.
        O Papa destacou que “a fé não se limita a proporcionar alguma informação sobre a identidade de Cristo, mas supõe uma relação pessoal com Ele, a adesão de toda a pessoa, com a sua inteligência, vontade e sentimentos, à manifestação que Deus faz de si mesmo”.
        “É impossível encontrar Cristo, e não o dar a conhecer aos outros. Por isso, não guardeis Cristo para vós mesmos. Comunicai aos outros a alegria da vossa fé. O mundo necessita do testemunho da vossa fé; necessita, sem dúvida, de Deus”, declarou.
       Bento XVI aconselhou os jovens a procurarem a “inserção nas paróquias, comunidades e movimentos”, bem como a “participação na Eucaristia de cada domingo, a recepção frequente do sacramento do perdão e o cultivo da oração e a meditação da Palavra de Deus”.
       No final da missa, Bento XVI abençoou e entregou uma pequena cruz, a cinco jovens, ao mesmo tempo que benzeu as de todos os presentes, como sinal de envio missionário.
        O presidente do Conselho Pontifício para os Leigos, cardeal Stanislaw Rylko, dirigiu ao Papa palavras de agradecimento, sublinhada por uma salva de palmas dos presentes, e disse que os jovens “estão prontos de sair de Madrid para o mundo inteiro”.
       A 26.ª JMJ decorrue entre terça-feira e domingo sob o lema “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé”, com a presença de Bento XVI desde quinta-feira e reunindo mais de um milhão de peregrinos, entre os quais 12 mil portugueses, números que fazem desta iniciativa o maior evento juvenil da Igreja Católica.

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA a Madrid

Bento XVI no aeródromo Cuatro Vientos, JMJ 2011


A chuva, o vento, ... a tempestade na Vigília da JMJ 2011

O Papa regressa, depois da tempestade, para salientar a coragem e a resistência dos jovens:

sábado, 20 de agosto de 2011

XXI Domingo do Tempo Comum - 21 de Agosto

       1 – Entremos no diálogo com Jesus. Caminhemos com Ele, deixemo-nos envolver pelas suas palavras, questionemo-nos com Ele. Hoje, como discípulos para este tempo, é a nós que Jesus nos interroga: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?»
       Com os primeiros discípulos responderemos: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas», uma personagem da História, um homem importante, um revolucionário, cujas palavras e gestos serviram de inspiração para muitos revolucionários, justificaram guerras, mortes, segregações, desculparam compromissos, foram instrumentalizadas por diversas ideologias, ora de direita, ora de esquerda, ora de coisa nenhuma.
       Se fizéssemos de jornalistas e saíssemos à rua a colocar esta questão às pessoas que encontrássemos pelo caminho, muitas e diversas seriam as respostas. Ficaríamos a saber mais acerca de Jesus, ainda que esse facto não nos comprometesse mais com Ele e com as Suas Palavras.
       Então Jesus pergunta de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?»
       Agora é que são elas. Ele já não nos pergunta o que se diz d'Ele, qual a opinião predominante. Não. Agora Ele questiona-nos acerca do que sabemos sobre Ele. Quem é Ele para nós, que significado, que importância tem na nossa vida, que alterações fazemos porque Ele está connosco?
       Quantas vezes já interrogamos pessoas amigas para sabermos o que se diz de nós. Mas no fim o mais importante não são as opiniões alheias, mas a opinião das pessoas que consideramos amigas.

       2 – Descobrimos, neste diálogo com Jesus, o Mestre dos Mestres, que a nossa relação com Ele não se baseia apenas no conhecimento indirecto, naquilo que os outros nos dizem acerca de Jesus. É necessário que nos encontremos com Ele e nos deixemos encontrar por Ele.
       Obviamente que o que outros nos ensinaram, o que escutamos das Suas palavras, o que acolhemos dos Seus gestos, a vivência das comunidades crentes, onde se faz e se renova a experiência de fé, são essenciais. Mas de pouco valem se não fizermos a experiência de encontro pessoal com Ele.
       A experiência de outros pode iluminar a nossa vida espiritual, como o testemunho dos santos e a sua intercessão, dando-nos também a certeza de que não caminhamos sós. Mas cada um tem que Se encontrar com Ele, conhecê-l'O, amá-l'O, acolhê-l'O em sua casa, na sua vida. Não respondemos com palavras alheias. A pergunta é para cada um de nós: e tu quem dizes que Eu sou, quem Sou Eu para Ti?
       Aqui, o conhecimento implica seguimento, compromisso com Aquele que conhecemos, com Aquele que nos questiona, e com as Suas Palavras. Conhecer Jesus há-de levar-nos a viver com Ele e como Ele, colocando Deus antes e acima de toda e qualquer escolha.

       3 – O diálogo continua. Pedro responde em nosso nome. Não responde por nós. Mas nas suas palavras há-de estar a nossa resposta e o nosso compromisso com Jesus, ainda que a missão seja diferente: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo».
       Não é uma resposta qualquer. É a primeira Profissão de Fé. É um conhecimento que vai para lá do sensível. Implica a fé. Implica a inspiração de Deus, pelo Espírito Santo. É uma descoberta e uma tomada de consciência. Como que lhe saem automaticamente as palavras da boca, sem ter exactamente consciência do que diz e aquilo a que se compromete.
       É neste entretanto que Jesus Se revela e responde a Pedro: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus».
       A profissão de Fé de Pedro dá lugar à missão, ao envio, ao compromisso: «Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».
       Assim com Pedro, assim connosco. A nossa Profissão de Fé leva-nos a comprometer-nos com Jesus Cristo e com o Seu Evangelho de Amor.

       4 – Bento XVI, na missão de Pedro, presidindo à Igreja, Corpo de Cristo, de que somos membros, ajuda-nos a reflectir, desafiando-nos a não marginalizar Deus na nossa vida e na cultura do nosso tempo. Quando isso acontece, espreitam diversos perigos, de egoísmo, de ruptura, de conflito, de despotismo, de relativismo, o perigo de tudo ser igualmente válido, o bem e o mal. Se não há uma referência (instância) última, superior, então tudo é possível. Destruo, mato, maltrato, roubo, engano,.. mas quem é que me julgará, se todos são iguais?
       Na mensagem para a XXVI Jornada Mundial da Juventude, partindo de uma das Epístolas de São Paulo (Colossenses 2, 7), o Papa propõe com o Apóstolo: "Enraizados e edificados em Cristo... firmes na fé".
       Olhando para a Sua juventude, o papa recorda como procuravam, os jovens do seu tempo, algo superior e grande, a vastidão e a beleza, algo que desse sentido a tudo o mais, mesmo à estabilidade da família e do emprego seguro.
O convite sugere três imagens expressivas:
  • a árvore (enraizados), cujas raízes a sustentam, lhe dão força e vigor. Quais são a raízes na nossa vida? A família e a cultura do nosso país. Mas há uma raiz inabalável: a confiança no Senhor.
  • a casa construída sobre rocha firme (e edificados em Cristo). "Porque me chamais 'Senhor, Senhor' e não fazeis o que Eu digo" (Lc 6, 46).
  • o crescimento da força física e moral (firmes na fé), hoje como naquele tempo não nos podemos deixar esmagar pelo pensamento dominante, em que se dá o eclipse e amnésia de Deus. Com outras preocupações esquecemo-nos d'Ele, não temos tempo para O escutar, para O contemplar. As sociedades sem Deus levaram ao inferno, à destruição, à morte. As sociedades com Deus, em que as pessoas procuram com verdade ouvir a Sua voz, constroem a civilização do amor.
       5 – No fundo, não basta a certidão de baptismo para se ser verdadeiramente cristão, como não basta a certidão de nascimento para nos inserirmos na família.
       Quantas famílias, unidas por laços de sangue, pela pertença biológica, vivem aos encontrões, atropelos e indiferentes uns aos outros. Pais que não falam com os filhos. Filhos que não querem saber dos Pais, ou dos irmãos. Por outras palavras, se os laços de sangue são importantes, identificadores, muito mais os laços afectivos, o amor, o diálogo, a compreensão, o apoio nos momentos difíceis e a festa dos momentos de bonança, a solidariedade.
       Do mesmo modo, a certidão de baptismo diz que somos cristãos. Mas, e se nos deixamos arrastar pelas opiniões que estão na moda, como árvores sem raízes, como casas construídas na areia, sem força para viver nos valores que nos identificam como crentes cristãos?
       Que adianta dizer que somos cristãos se mantemos Deus à margem da nossa vida e nos marginalizamos do compromisso comunitário, espaço vital para aprofundar e partilhar, celebrar e amadurecer, confrontar e viver a fé?

Textos para a Eucaristia (ano A): Is 22,19-23; Rom 11,33-36; Mt 16,13-20.

Amparados pela fé da Igreja para ser testemunhas

       5. Naquele momento Jesus exclama: «Porque Me viste, acreditaste. Bem-aventurados os que, sem terem visto, acreditaram!» (Jo 20, 29). Ele pensa no caminho da Igreja, fundada sobre a fé das testemunhas oculares: os Apóstolos. Compreendemos então que a nossa fé pessoal em Cristo, nascida do diálogo com Ele, está ligada à fé da Igreja: não somos crentes isolados, mas, pelo Baptismo, somos membros desta grande família, e é a fé professada pela Igreja que dá segurança à nossa fé pessoal. O credo que proclamamos na Missa dominical protege-nos precisamente do perigo de crer num Deus que não é o que Jesus nos revelou: «Cada crente é, assim, um elo na grande cadeia dos crentes. Não posso crer sem ser motivado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo também para guiar os outros na fé» (Catecismo da Igreja Católica, n. 166). Agradeçamos sempre ao Senhor pelo dom da Igreja; ela faz-nos progredir com segurança na fé, que nos dá a vida verdadeira (cf. Jo 20, 31).
       Na história da Igreja, os santos e os mártires hauriram da Cruz gloriosa de Cristo a força para serem fiéis a Deus até à doação de si mesmos; na fé encontraram a força para vencer as próprias debilidades e superar qualquer adversidade. De facto, como diz o apóstolo João, «Quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?» (1 Jo 5, 5). E a vitória que nasce da fé é a do amor. Quantos cristãos foram e são um testemunho vivo da força da fé que se exprime na caridade; foram artífices de paz, promotores de justiça, animadores de um mundo mais humano, um mundo segundo Deus; comprometeram-se nos vários âmbitos da vida social, com competência e profissionalidade, contribuindo de modo eficaz para o bem de todos. A caridade que brota da fé levou-os a dar um testemunho muito concreto, nas acções e nas palavras: Cristo não é um bem só para nós próprios, é o bem mais precioso que temos para partilhar com os outros. Na era da globalização, sede testemunhas da esperança cristã em todo o mundo: são muitos os que desejam receber esta esperança! Diante do sepulcro do amigo Lázaro, morto havia quatro dias, Jesus, antes de o chamar de novo à vida, disse à sua irmã Marta: «Se acreditasses, verias a glória de Deus» (cf. Jo 11, 40). Também vós, se acreditardes, se souberdes viver e testemunhar a vossa fé todos os dias, tornar-vos-eis instrumentos para fazer reencontrar a outros jovens como vós o sentido e a alegria da vida, que nasce do encontro com Cristo! 

Crer em Jesus Cristo sem o ver

       4. No Evangelho é-nos descrita a experiência de fé do apóstolo Tomé ao acolher o mistério da Cruz e da Ressurreição de Cristo. Tomé faz parte dos Doze apóstolos; seguiu Jesus; foi testemunha directa das suas curas, dos milagres; ouviu as suas palavras; viveu a desorientação perante a sua morte. Na noite de Páscoa o Senhor apareceu aos discípulos, mas Tomé não estava presente, e quando lhe foi contado que Jesus estava vivo e se mostrou, declarou: «Se eu não vir o sinal dos cravos nas Suas mãos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e não meter a mão no Seu lado, não acreditarei» (Jo 20, 25).
       Também nós gostaríamos de poder ver Jesus, de poder falar com Ele, de sentir ainda mais forte a sua presença. Hoje para muitos, o acesso a Jesus tornou-se difícil. Circulam tantas imagens de Jesus que se fazem passar por científicas e O privam da sua grandeza, da singularidade da Sua pessoa. Portanto, durante longos anos de estudo e meditação, maturou em mim o pensamento de transmitir um pouco do meu encontro pessoal com Jesus num livro: quase para ajudar a ver, a ouvir, a tocar o Senhor, no qual Deus veio ao nosso encontro para se dar a conhecer. De facto, o próprio Jesus aparecendo de novo aos discípulos depois de oito dias, diz a Tomé: «Chega aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente» (Jo 20, 27). Também nós temos a possibilidade de ter um contacto sensível com Jesus, meter, por assim dizer, a mão nos sinais da sua Paixão, os sinais do seu amor: nos Sacramentos Ele torna-se particularmente próximo de nós, doa-se a nós. Queridos jovens, aprendei a «ver», a «encontrar» Jesus na Eucaristia, onde está presente e próximo até se fazer alimento para o nosso caminho; no Sacramento da Penitência, no qual o Senhor manifesta a sua misericórdia ao oferecer-nos sempre o seu perdão. Reconhecei e servi Jesus também nos pobres, nos doentes, nos irmãos que estão em dificuldade e precisam de ajuda.
       Abri e cultivai um diálogo pessoal com Jesus Cristo, na fé. Conhecei-o mediante a leitura dos Evangelhos e do Catecismo da Igreja Católica; entrai em diálogo com Ele na oração, dai-lhe a vossa confiança: ele nunca a trairá! «Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus» (Catecismo da Igreja Católica, n. 150). Assim podereis adquirir uma fé madura, sólida, que não estará unicamente fundada num sentimento religioso ou numa vaga recordação da catequese da vossa infância. Podereis conhecer Deus e viver autenticamente d’Ele, como o apóstolo Tomé, quando manifesta com força a sua fé em Jesus: «Meu Senhor e meu Deus!».

JMJ 2011: Via-sacra

Saudação do Papa a partir do papa móvil

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Cruz das JMJ e o Ícone de Santa Maria

Bento XVI: Firmes na fé

       3. «Enraizados e fundados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). A Carta da qual é tirado este convite, foi escrita por São Paulo para responder a uma necessidade precisa dos cristãos da cidade de Colossos. Com efeito, aquela comunidade estava ameaçada pela influência de determinadas tendências culturais da época, que afastavam os fiéis do Evangelho. O nosso contexto cultural, queridos jovens, tem numerosas analogias com o tempo dos Colossenses daquela época. De facto, há uma forte corrente de pensamento laicista que pretende marginalizar Deus da vida das pessoas e da sociedade, perspectivando e tentando criar um «paraíso» sem Ele. Mas a experiência ensina que o mundo sem Deus se torna um «inferno»: prevalecem os egoísmos, as divisões nas famílias, o ódio entre as pessoas e entre os povos, a falta de amor, de alegria e de esperança. Ao contrário, onde as pessoas e os povos acolhem a presença de Deus, o adoram na verdade e ouvem a sua voz, constrói-se concretamente a civilização do amor, na qual todos são respeitados na sua dignidade, cresce a comunhão, com os frutos que ela dá. Contudo existem cristãos que se deixam seduzir pelo modo de pensar laicista, ou são atraídos por correntes religiosas que afastam da fé em Jesus Cristo. Outros, sem aderir a estas chamadas, simplesmente deixaram esmorecer a sua fé, com inevitáveis consequências negativas a nível moral.
       Aos irmãos contagiados por ideias alheias ao Evangelho, o apóstolo Paulo recorda o poder de Cristo morto e ressuscitado. Este mistério é o fundamento da nossa vida, o centro da fé cristã. Todas as filosofias que o ignoram, que o consideram «escândalo» (1 Cor 1, 23), mostram os seus limites diante das grandes perguntas que habitam o coração do homem. Por isso também eu, como Sucessor do apóstolo Pedro, desejo confirmar-vos na fé (cf. Lc 22, 32). Nós cremos firmemente que Jesus Cristo se ofereceu na Cruz para nos doar o seu amor; na sua paixão, carregou os nossos sofrimentos, assumiu sobre si os nossos pecados, obteve-nos o perdão e reconciliou-nos com Deus Pai, abrindo-nos o caminho da vida eterna. Deste modo fomos libertados do que mais entrava a nossa vida: a escravidão do pecado, e podemos amar a todos, até os inimigos, e partilhar este amor com os irmãos mais pobres e em dificuldade.
       Queridos amigos, muitas vezes a Cruz assusta-nos, porque parece ser a negação da vida. Na realidade, é o contrário! Ela é o «sim» de Deus ao homem, a expressão máxima do seu amor e a nascente da qual brota a vida eterna. De facto, do coração aberto de Jesus na cruz brotou esta vida divina, sempre disponível para quem aceita erguer os olhos para o Crucificado. Portanto, não posso deixar de vos convidar a aceitar a Cruz de Jesus, sinal do amor de Deus, como fonte de vida nova. Fora de Cristo morto e ressuscitado, não há salvação! Só Ele pode libertar o mundo do mal e fazer crescer o Reino de justiça, de paz e de amor pelo qual todos aspiram.

Hino da JMJ - Madrid 2011

Bento XVI com Religiosas e Professores Universitários

       Foram vários os desafios que o Papa deixou aos jovens professores universitários que o ouviram no Mosteiro do Escorial, em Espanha. Bento XVI mostrou-se conhecedor da vida universitária e pediu aos professores que não se deixem conquistar pela vaidade.
        “Havemos de considerar que a verdade em si mesma está para além do nosso alcance. Podemos procurá-la e aproximar-nos dela, mas não possuí-la totalmente; antes, é ela que nos possui a nós e estimula. Na actividade intelectual e docente, a humildade é também uma virtude indispensável, pois protege da vaidade que fecha o acesso à verdade. Não devemos atrair os estudantes para nós mesmos, mas encaminhá-los para essa verdade que todos procuramos. Nisto vos ajudará o Senhor, que vos propõe ser simples e eficazes como o sal, ou como a lâmpada que dá luz sem fazer ruído”, afirmou. 
Foi neste sentido que o Papa defendeu que professores e estudantes devem procurar, juntos, a verdade em todos os saberes.
       “Encarecidamente vos exorto a não perderdes jamais tal sensibilidade e encanto pela verdade, a não esquecerdes que o ensino não é uma simples transmissão de conteúdos, mas uma formação de jovens a quem deveis compreender e amar, em quem deveis suscitar aquela sede de verdade que possuem no mais fundo de si mesmos e aquele anseio de superação. Sede para eles estímulo e fortaleza”, apelou.
       Outro aspecto focado pelo Santo Padre é o exemplo do mestre. Não basta ser erudito e ensinar bem, é preciso comprometer-se com aquilo que ensina. 
       “Como se sabe, quando a mera utilidade e o pragmatismo imediato se erigem como critério principal, os danos podem ser dramáticos: desde os abusos duma ciência que não reconhece limites para além de si mesma, até ao totalitarismo político que se reanima facilmente quando é eliminada toda a referência superior ao mero cálculo de poder. Ao invés, a genuína ideia de universidade é que nos preserva precisamente desta visão reducionista e distorcida do humano”, considerou.
       Antes, o Papa dirigiu-se a milhares de jovens freiras, que o receberam com um enorme entusiasmo. 

Notícia: Rádio Renascença. Ver também Agência Ecclesia.


A partir da Agência Ecclesia:

Praça de Cibeles: encontro dos jovens com Bento XVI

       Ontem, ao início da noite, o primeiro encontro de Bento XVI com os jovens, idos de todo o mundo, na Praça Cibeles, onde o Real Madrid costuma festejar os troféus...

Enraizados e fundados em Cristo

       2. Para ressaltar a importância da fé na vida dos crentes, gostaria de me deter sobre cada uma das três palavras que São Paulo usa nesta sua expressão: «Enraizados e fundados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). Nela podemos ver três imagens: «enraizado» recorda a árvore e as raízes que a alimentam; «fundado» refere-se à construção de uma casa; «firme» evoca o crescimento da força física e moral. Trata-se de imagens muito eloquentes. Antes de as comentar, deve-se observar simplesmente que no texto original as três palavras, sob o ponto de vista gramatical, estão no passivo: isto significa que é o próprio Cristo quem toma a iniciativa de radicar, fundar e tornar firmes os crentes.
       A primeira imagem é a da árvore, firmemente plantada no solo através das raízes, que a tornam estável e a alimentam. Sem raízes, seria arrastada pelo vento e morreria. Quais são as nossas raízes? Naturalmente, os pais, a família e a cultura do nosso país, que são uma componente muito importante da nossa identidade. A Bíblia revela outra. O profeta Jeremias escreve: «Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano; continua a produzir frutos» (Jr 17, 7-8). Estender as raízes, para o profeta, significa ter confiança em Deus. D’Ele obtemos a nossa vida; sem Ele não poderíamos viver verdadeiramente. «Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está em Seu Filho» (1 Jo 5, 11). O próprio Jesus apresenta-se como nossa vida (cf. Jo 14, 6). Por isso a fé cristã não é só crer em verdades, mas é antes de tudo uma relação pessoal com Jesus Cristo, é o encontro com o Filho de Deus, que dá a toda a existência um novo dinamismo. Quando entramos em relação pessoal com Ele, Cristo revela-nos a nossa identidade e, na sua amizade, a vida cresce e realiza-se em plenitude. Há um momento, quando somos jovens, em que cada um de nós se pergunta: que sentido tem a minha vida, que finalidade, que orientação lhe devo dar? É uma fase fundamental, que pode perturbar o ânimo, às vezes também por muito tempo. Pensa-se no tipo de trabalho a empreender, quais relações sociais estabelecer, que afectos desenvolver... Neste contexto, penso de novo na minha juventude. De certa forma muito cedo tive a consciência de que o Senhor me queria sacerdote. Mais tarde, depois da Guerra, quando no seminário e na universidade eu estava a caminho para esta meta, tive que reconquistar esta certeza. Tive que me perguntar: é este verdadeiramente o meu caminho? É deveras esta a vontade do Senhor para mim? Serei capaz de Lhe permanecer fiel e de estar totalmente disponível para Ele, ao Seu serviço? Uma decisão como esta deve ser também sofrida. Não pode ser de outra forma. Mas depois surgiu a certeza: é bem assim! Sim, o Senhor quer-me, por isso também me dará a força. Ao ouvi-Lo, ao caminhar juntamente com Ele torno-me deveras eu mesmo. Não conta a realização dos meus próprios desejos, mas a Sua vontade. Assim a vida torna-se autêntica.
       Tal como as raízes da árvore a mantêm firmemente plantada na terra, também os fundamentos dão à casa uma estabilidade duradoura. Mediante a fé, nós somos fundados em Cristo (cf. Cl 2, 7), como uma casa é construída sobre os fundamentos. Na história sagrada temos numerosos exemplos de santos que edificaram a sua vida sobre a Palavra de Deus. O primeiro foi Abraão. O nosso pai na fé obedeceu a Deus que lhe pedia para deixar a casa paterna a fim de se encaminhar para uma terra desconhecida. «Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça e foi chamado amigo de Deus» (Tg 2, 23). Estar fundados em Cristo significa responder concretamente à chamada de Deus, confiando n’Ele e pondo em prática a sua Palavra. O próprio Jesus admoesta os seus discípulos: «Porque me chamais: “Senhor, Senhor” e não fazeis o que Eu digo?» (Lc 6, 46). E, recorrendo à imagem da construção da casa, acrescenta: «todo aquele que vem ter Comigo, escuta as Minhas palavras e as põe em prática, é semelhante a um homem que construiu uma casa: Cavou, aprofundou e assentou os alicerces sobre a rocha. Sobreveio a inundação, a torrente arremessou-se com violência contra aquela casa e não pôde abalá-la por ter sido bem construída» (Lc 6, 47-48).
       Queridos amigos, construí a vossa casa sobre a rocha, como o homem que «cavou muito profundamente». Procurai também vós, todos os dias, seguir a Palavra de Cristo. Senti-O como o verdadeiro Amigo com o qual partilhar o caminho da vossa vida. Com Ele ao vosso lado sereis capazes de enfrentar com coragem e esperança as dificuldades, os problemas, também as desilusões e as derrotas. São-vos apresentadas continuamente propostas mais fáceis, mas vós mesmos vos apercebeis que se revelam enganadoras, que não vos dão serenidade e alegria. Só a Palavra de Deus nos indica o caminho autêntico, só a fé que nos foi transmitida é a luz que ilumina o caminho. Acolhei com gratidão este dom espiritual que recebestes das vossas famílias e comprometei-vos a responder com responsabilidade à chamada de Deus, tornando-vos adultos na fé. Não acrediteis em quantos vos dizem que não tendes necessidade dos outros para construir a vossa vida! Ao contrário, apoiai-vos na fé dos vossos familiares, na fé da Igreja, e agradecei ao Senhor por a ter recebido e feito vossa!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Discurso do Bento XVI no Aeroporto de Barajas

Majestades,
Senhor Cardeal Arcebispo de Madrid,
Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Distintas Autoridade Nacionais, Autonómicas e Locais,
Querido povo de Madrid e da Espanha inteira!
       Obrigado, Majestade, pela sua presença aqui, juntamente com a Rainha, e pelas palavras deferentes e amigas de boas-vindas que me dirigiu. Palavras que me fazem reviver as inesquecíveis demonstrações de simpatia recebidas nas minhas anteriores visitas apostólicas a Espanha, e de modo muito particular na minha recente viagem a Santiago de Compostela e a Barcelona. Saúdo cordialmente todos vós que vos encontrais reunidos aqui em Barajas, e quantos acompanham esta cerimónia através do rádio e da televisão. Uma menção muito agradecida desejo fazer aos que com tanto zelo e dedicação, nas instituições eclesiais e civis, contribuíram com o seu esforço e trabalho para que esta Jornada Mundial da Juventude em Madrid decorra em boa ordem e se cubra de abundantes frutos.
       Desejo também agradecer de todo o coração a hospitalidade de tantas famílias, paróquias, colégios e outras instituições que acolheram os jovens vindos de todo o mundo, primeiro nas diversas regiões e cidades da Espanha e agora nesta grande cidade de Madrid, cosmopolita e sempre de portas abertas.
       Venho aqui para me encontrar com milhares de jovens de todo o mundo, católicos, interessados por Cristo ou à procura da verdade que dê sentido genuíno à sua existência. Chego como Sucessor de Pedro para confirmar todos na fé, vivendo alguns dias de intensa atividade pastoral para anunciar que Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida. Para animar o compromisso de construir o Reino de Deus no mundo, no meio de nós. Para exortar os jovens a encontrarem-se pessoalmente com Cristo Amigo e assim, radicados na sua Pessoa, converterem-se em seus fiéis seguidores e valorosas testemunhas.
       Esta multidão de jovens que veio a Madrid… porque e para que vieram? Embora a resposta deva ser dada por eles próprios, pode-se entretanto pensar que desejam escutar a Palavra de Deus, como lhes foi proposto no lema para esta Jornada Mundial da Juventude, de tal maneira que, arraigados e edificados em Cristo, manifestem a firmeza da sua fé.
       Muitos deles talvez tenham ouvido a voz de Deus apenas como um leve sussurro, que os impeliu a procurá-Lo mais diligentemente e a partilhar com outros a experiência da força que tem na suas vidas. Esta descoberta do Deus vivo revigora os jovens e abre os seus olhos para os desafios do mundo onde vivem, com as suas possibilidades e limitações. Veem a superficialidade, o consumismo e o hedonismo imperantes, tanta banalidade na vivência da sexualidade, tanto egoísmo, tanta corrupção. E sabem que, sem Deus, seria difícil afrontar estes desafios e ser verdadeiramente felizes, colocando para isso todo o entusiasmo na consecução duma vida autêntica. Mas, com Ele a seu lado, terão luz para caminhar e razões para esperar, não se detendo nem mesmo diante dos ideais mais altos, que hão de motivar os seus generosos compromissos para a construção de uma sociedade onde se respeite a dignidade humana e uma efetiva fraternidade. Aqui, nesta Jornada, têm uma ocasião privilegiada para colocar em comum as suas aspirações, trocar reciprocamente a riqueza das suas culturas e experiências, animar-se mutuamente num caminho de fé e de vida, no qual alguns se julgam sozinhos ou ignorados nos seus ambientes quotidianos. Mas não! Não estão sozinhos. Muitos da sua idade partilham os mesmos propósitos deles e, confiando inteiramente em Cristo, sabem que têm realmente um futuro à sua frente e não temem os compromissos decisivos que preenchem toda a vida. Por isso me dá imensa alegria poder escutá-los, rezarmos juntos e celebrar a Eucaristia com eles. A Jornada Mundial da Juventude traz-nos uma mensagem de esperança, como uma brisa de ar puro e juvenil, com aromas renovadores que nos enchem de confiança face ao amanhã da Igreja e do mundo.
       Não faltam, certamente, dificuldades. Subsistem tensões e confrontos em aberto em muitos lugares do mundo, inclusive com derramamento de sangue. A justiça e o sublime valor da pessoa humana facilmente se curvam a interesses egoístas, materiais e ideológicos. Não sempre se respeita, como é devido, o meio ambiente e a natureza, que Deus criou com tanto amor. Além disso, muitos jovens olham com preocupação para o futuro diante da dificuldade de encontrar um trabalho digno, ou por terem perdido o emprego, ou por ser este muito precário. Há outros que precisam de prevenção para não cair na rede das drogas, ou de uma ajuda eficaz, caso desgraçadamente já tenham caído nela. Há muitos que, por causa da sua fé em Cristo, são vítimas de discriminação, que gera o desprezo e a perseguição, aberta ou dissimulada, que sofrem em determinadas regiões e países. Molestam-lhes querendo afastá-los d’Ele, privando-os dos sinais da sua presença na vida pública e silenciando mesmo o seu santo Nome. Mas, eu volto a dizer aos jovens, com todas as forças do meu coração: Que nada e ninguém vos tire a paz; não vos envergonheis do Senhor. Ele fez questão de fazer-se igual a nós e experimentar as nossas angústias para levá-las a Deus, e assim nos salvou.
       Neste contexto, é urgente ajudar os jovens discípulos de Jesus a permanecerem firmes na fé e a assumirem a maravilhosa aventura de anunciá-la e testemunhá-la abertamente com a sua própria vida. Um testemunho corajoso e cheio de amor pelo homem irmão, ao mesmo tempo decidido e prudente, sem ocultar a própria identidade cristã, num clima de respeitosa convivência com outras legítimas opções e exigindo ao mesmo tempo o devido respeito pelas próprias.
       Majestade, ao renovar-lhes o meu agradecimento pelas deferentes boas-vindas que me proporcionaram, desejo exprimir também o meu apreço e proximidade a todos os povos de Espanha, bem como a minha admiração por um País tão rico de história e cultura, pela vitalidade da sua fé, que frutificou em tantos santos e santas de todas as épocas, em numerosos homens e mulheres que, deixando a sua terra, levaram o Evangelho a todos os cantos do mundo, e em pessoas retas, solidárias e bondosas por todo o seu território. Trata-se de um grande tesouro, que vale a pena, sem dúvida, cuidar com atitude construtiva, para o bem comum de hoje e para oferecer um horizonte luminoso ao porvir das novas gerações. Embora atualmente haja motivos de preocupação, maior é a solicitude dos espanhóis pela sua superação com esse dinamismo que os caracteriza e para o qual contribuem imenso as suas profundas raízes cristãs, muito fecundas ao longo dos séculos.
       Daqui saúdo com grande cordialidade todos os queridos amigos espanhóis e madrilenos, e quantos vieram de outras terras. Durante estes dias estarei junto de vós, mas tendo também muito presente todos os jovens do mundo, particularmente os que atravessam provações de diversa índole. Ao confiar este encontro à Santíssima Virgem Maria e à intercessão dos Santos protetores desta Jornada, peço a Deus que abençoe e proteja sempre os filhos da Espanha. Muito obrigado.

Bento XVI

História das Jornadas

Bento XVI nas ruas de Madrid

Na nascente das vossas maiores aspirações!

       1. Em todas as épocas, também nos nossos dias, numerosos jovens sentem o desejo profundo de que as relações entre as pessoas sejam vividas na verdade e na solidariedade. Muitos manifestam a aspiração por construir relacionamentos de amizade autêntica, por conhecer o verdadeiro amor, por fundar uma família unida, por alcançar uma estabilidade pessoal e uma segurança real, que possam garantir um futuro sereno e feliz. Certamente, recordando a minha juventude, sei que estabilidade e segurança não são as questões que ocupam mais a mente dos jovens. Sim, a procura de um posto de trabalho e com ele poder ter uma certeza é um problema grande e urgente, mas ao mesmo tempo a juventude permanece contudo a idade na qual se está em busca da vida maior. Se penso nos meus anos de então: simplesmente não nos queríamos perder na normalidade da vida burguesa. Queríamos o que é grande, novo. Queríamos encontrar a própria vida na sua vastidão e beleza. Certamente, isto dependia também da nossa situação. Durante a ditadura nacional-socialista e durante a guerra nós fomos, por assim dizer, «aprisionados» pelo poder dominante. Por conseguinte, queríamos sair fora para entrar na amplidão das possibilidades do ser homem. Mas penso que, num certo sentido, todas as gerações sentem este impulso de ir além do habitual. Faz parte do ser jovem desejar algo mais do que a vida quotidiana regular de um emprego seguro e sentir o anseio pelo que é realmente grande. Trata-se apenas de um sonho vazio que esvaece quando nos tornamos adultos? Não, o homem é verdadeiramente criado para aquilo que é grande, para o infinito. Qualquer outra coisa é insuficiente. Santo Agostinho tinha razão: o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti. O desejo da vida maior é um sinal do facto que foi Ele quem nos criou, de que temos a Sua «marca». Deus é vida, e por isso todas as criaturas tendem para a vida; de maneira única e especial a pessoa humana, feita à imagem de Deus, aspira pelo amor, pela alegria e pela paz. Compreendemos então que é um contra-senso pretender eliminar Deus para fazer viver o homem! Deus é a fonte da vida; eliminá-lo equivale a separar-se desta fonte e, inevitavelmente, a privar-se da plenitude e da alegria: «De facto, sem o Criador a criatura esvaece» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 36). A cultura actual, nalgumas áreas do mundo, sobretudo no Ocidente, tende a excluir Deus, ou a considerar a fé como um facto privado, sem qualquer relevância para a vida social. Mas o conjunto de valores que estão na base da sociedade provém do Evangelho – como o sentido da dignidade da pessoa, da solidariedade, do trabalho e da família – constata-se uma espécie de «eclipse de Deus», uma certa amnésia, ou até uma verdadeira rejeição do Cristianismo e uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder a própria identidade profunda.
       Por este motivo, queridos amigos, convido-vos a intensificar o vosso caminho de fé em Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Vós sois o futuro da sociedade e da Igreja! Como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos da cidade de Colossos, é vital ter raízes, bases sólidas! E isto é particularmente verdadeiro hoje, quando muitos não têm pontos de referência estáveis para construir a sua vida, tornando-se assim profundamente inseguros. O relativismo difundido, segundo o qual tudo equivale e não existe verdade alguma, nem qualquer ponto de referência absoluto, não gera a verdadeira liberdade, mas instabilidade, desorientação, conformismo às modas do momento. Vós jovens tendes direito de receber das gerações que vos precedem pontos firmes para fazer as vossas opções e construir a vossa vida, do mesmo modo como uma jovem planta precisa de um sólido apoio para que as raízes cresçam, para se tornar depois uma árvore robusta, capaz de dar fruto.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

26 anos de Jornadas Mundiais

Mensagem de Bento XVI para a JMJ 2011

Enraizados e edificados n’Ele... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7)
Queridos amigos!
Penso com frequência na Jornada Mundial da Juventude de Sidney de 2008. Lá vivemos uma grande festa da fé, durante a qual o Espírito de Deus agiu com força, criando uma comunhão intensa entre os participantes, que vieram de todas as partes do mundo. Aquele encontro, assim como os precedentes, deu frutos abundantes na vida de numerosos jovens e de toda a Igreja. Agora, o nosso olhar dirige-se para a próxima Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar em Madrid em Agosto de 2011. Já em 1989, poucos meses antes da histórica derrocada do Muro de Berlim, a peregrinação dos jovens fez etapa na Espanha, em Santiago de Compostela. Agora, num momento em que a Europa tem grande necessidade de reencontrar as suas raízes cristãs, marcamos encontro em Madrid, com o tema: «Enraizados e edificados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). Por conseguinte, convido-vos para este encontro tão importante para a Igreja na Europa e para a Igreja universal. E gostaria que todos os jovens, quer os que compartilham a nossa fé em Jesus Cristo, quer todos os que hesitam, que estão na dúvida ou não crêem n’Ele, possam viver esta experiência, que pode ser decisiva para a vida: a experiência do Senhor Jesus ressuscitado e vivo e do seu amor por todos nós.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mensagem de Bento XVI para a JMJ - Madrid 2011

Início das Jornadas Mundiais da Juventude

       As Jornadas Mundiais da Juventude iniciam-se hoje, apesar de milhares de jovens já se encontrarem em Espanha, noutras dioceses. A confluência será para Madrid, onde se encontrarão com o Papa Bento XVI

Notícia Renascença:
       Em vésperas da Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, o Papa convidou todos os peregrinos a orar e a acompanhá-lo espiritualmente na viagem apostólica que começa dia 18. 
       “Saúdo com afecto os grupos de língua espanhola!”, afirmou Bento XVI, com grande receptividade do público.
       O Sumo Pontífice, que por estes dias descansa na residência de Verão em Castelgandolfo, nos arredores de Roma, dirigiu-se aos peregrinos em seis idiomas e deixou clara a sua alegria pela visita à capital espanhola. E dirigiu-se, em particular a um grupo de cubanos pela primeira vez em Roma.
       Em castelhano, o Papa disse ainda esperar que a iniciativa mundial seja frutuosa.

       É o maior evento organizado regularmente pela Igreja Católica. As Jornadas Mundiais da Juventude de 2011 decorrem em Madrid e arrancam a 16 de Agosto. O Papa já estendeu o convite: "Convido-vos para este acontecimento tão importante para a Igreja na Europa e para a Igreja universal. Todos os jovens, tanto os que partilham a nossa fé, como os que vacilam, duvidam ou acreditam, podem viver esta experiência, que pode ser decisiva na sua vida".
      A Renascença preparou um especial que inclui reportagens e um guia de perguntas e respostas. Siga a Rádio Renascença.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Pinheiros: 2.ª Festa do Emigrante

       Realizou-se, no segundo domingo de Agosto, no dia 14 de Agosto, a 2.ª Festa do Emigrante, da comunidade paroquial de Pinheiros, um mês antes da festa anual da Padroeira, possibilitando que alguns que não podem estar no mês de Setembro, possam encontrar-se num momento de oração, de convívio, de festa, com toda a comunidade de Pinheiros. Ficam o registo com algumas das imagens, sobretudo da Eucaristia e da Procissão.

Solenidade da ASSUNÇÃO de NOSSA SENHORA

       1 – «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?" A saudação de Isabel a Nossa Senhora insinua o privilégio de Maria, antecipando-se Nela os frutos da CRUZ redentora de Jesus. Maria é salva, como todos nós mas por antecipação, pelos méritos da morte e ressurreição de Seu Filho.
       Concebida e preservada sem mácula, concebe pelo Espírito Santo, conserva a integridade, física e moral, deixando transparecer a intervenção divina, para que estando no mundo, acolhendo o Filho do Altíssimo, possa abarcar a divindade no tempo e na história.
       Depois da Sua morte, os cristãos sempre acreditaram que Ela também tinha sido preservada incorruptível e elevada ao Céu em corpo e alma. Preservada em vida e preservada para a eternidade com Deus.
       A segunda Leitura, da Epístola de São Paulo aos Coríntios, recorda-nos que a morte e ressurreição de Jesus antecipa também o nosso fim. "Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida".
       Nossa Senhora, criatura humana como nós, testemunha a salvação em Cristo. Morre e ressuscita, antecipando-Se para Ela o encontro definitivo com Deus nosso Pai.

       2 – No SIM de Maria, Deus vem ao nosso encontro, faz-Se um de nós. Jesus Cristo, por sua vez, abre a nossa história, a nossa humanidade e a nossa finitude à eternidade; dando-lhe um sentido de plenitude, coloca-nos para sempre à direita de Deus Pai, onde Ele já Se encontra.
       "Ela teve um filho varão, que há-de reger todas as nações com ceptro de ferro. O filho foi levado para junto de Deus e do seu trono e a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar. E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu: «Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o domínio do seu Ungido» (Primeira Leitura).
       Por Maria é-nos dado um Salvador. Pelo Salvador é-nos concedida a eternidade, a começar por Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa, que Ele nos dá no alto da CRUZ.

       3 – O fim tem um começo. Maria diz "SIM", para acolher Jesus Cristo, um sim que se faz vida, no serviço, na intercessão, na atenção aos outros, como nos mostra o Evangelho deste domingo. Maria vai apressadamente para a montanha, em auxílio de Isabel. Não vai como privilegiada, vai como serva.
       A sua oração é reveladora: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome".
       É Deus que opera maravilhas Nela, mas a favor da humanidade. É um privilégio inclusivo, para beneficiar a todos. Em Maria vislumbramos a nossa salvação.
       Em Maria, a nossa fé há-de levar-nos, como Ela, a viver na procura de realizar a vontade de Deus, acolhendo Cristo e mostrando-O ao mundo pela voz e pela vida.
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Textos para a Eucaristia: Ap 11,19;12,1-6.10; 1 Cor 15,20-27; Lc 1,39-56

Reflexão Dominical, na Página da Paróquia de Tabuaço.
(Reposição da Reflexão de 15 de Agosto de 2010)

sábado, 13 de agosto de 2011

XX Domingo do Tempo Comum - 14 de Agosto

       1 – A eficácia da oração, a universalidade da salvação e a justiça humana e divina (esta como garantia última e como referência para a justiça terrena) centram a temática da liturgia da Palavra para este domingo, dia do Senhor.
       Como cristãos, inseridos nas diversas comunidades paroquiais, congregamo-nos em Igreja para escutar, reflectir, acolher, assumir e viver a Palavra de Deus, preparando-nos para comungar o pão da vida, Jesus Cristo, e, consequentemente, para estarmos em comunhão com toda a Igreja, em comunhão com Cristo e com o Seu Evangelho.
       2 – "Uma mulher cananeia, vinda daqueles arredores, começou a gritar: «Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim. Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio». Mas Jesus não lhe respondeu uma palavra. Os discípulos aproximaram-se e pediram-Lhe: «Atende-a, porque ela vem a gritar atrás de nós». Jesus respondeu: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel». Mas a mulher veio prostrar-se diante d’Ele, dizendo: «Socorre-me, Senhor». Ele respondeu: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos». Mas ela insistiu: «É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos». Então Jesus respondeu-lhe: "Mulher, é grande a tua fé. Faça-se como desejas». E, a partir daquele momento, a sua filha ficou curada".

       3 – A salvação que nos é trazida em Jesus é universal e não elitista. Jesus vem para todos, judeus e gregos, escravos e livres, homens e mulheres, idosos e crianças.
       No Evangelho proposto para este dia vemos a hesitação dos judeus, manifesta no diálogo entre Jesus e a cananeia. Nas palavras de Jesus, a ideia dos judeus em geral e dos discípulos em particular, pensando que o Messias viria apenas para libertar Israel, esquecendo que a eleição do Povo da Aliança é instrumental, isto é, foi sempre na perspectiva de ser instrumento de salvação e de bênção para todos os povos. Nas palavras da cananeia e dos discípulos, a visão de Jesus. Ele vem para todos. O diálogo está claramente invertido. Jesus vai levar algum tempo a fazer compreender aos seus discípulos que a salvação não é exclusiva (não exclui ninguém) mas é inclusiva (inclui toda a humanidade, basta a fé, como ponto de partida).
       Neste episódio, vê-se claramente, que a salvação não é uma conquista ou um direito de uma raça ou de uma religião, mas resulta da adesão firme ao Evangelho, da fé que se professa. Ela (mulher cananeia) é salva porque acredita. Isso mesmo lhe diz Jesus: faça-se como desejas. É a abertura do coração, a nossa fé que nos leva a Jesus, para n'Ele nos encontrarmos na salvação de Deus.
       O segredo está na humildade, na abertura ao mistério que vem de Jesus. Como a mulher cananeia não tenhamos medo de suplicar: «Socorre-me, Senhor».
       A oração predispõe-nos para acolher a vontade de Deus.

       4 – Na perspectiva do Apóstolo, a Sua própria missão é levar o Evangelho de Jesus Cristo a toda a parte, para que a salvação esteja ao alcance de todo o mundo, judeus e gregos, crentes e pagãos.
       Diz-nos São Paulo: "Enquanto eu for Apóstolo dos gentios, procurarei prestigiar o meu ministério a ver se provoco o ciúme dos homens da minha raça e salvo alguns deles. Porque, se da sua rejeição resultou a reconciliação do mundo, o que será a sua reintegração senão uma ressurreição de entre os mortos? Porque os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis. Vós fostes outrora desobedientes a Deus e agora alcançastes misericórdia, devido à desobediência dos judeus. Assim também eles desobedecem agora, de modo que, devido à misericórdia obtida por vós, também eles agora alcancem misericórdia. Efectivamente, Deus encerrou a todos na desobediência, para usar de misericórdia para com todos".
       Também aqui se vê claramente que Jesus Cristo não veio apenas para os judeus, para um grupo determinado, para o povo eleito, mas para todos. Com efeito, a própria eleição do povo é instrumental, para levar a salvação a todas as nações. Para que no povo da aliança sejam abençoados todos os povos.

       5 – O profeta Isaías faz ressonância da benevolência divina e como a Palavra de Deus se estende também aos estrangeiros. Por um lado, diante do Senhor o que conta não é a origem, a religião, a certidão de nascimento, mas a atitude e os comportamentos: a justiça, o direito, o bem.
       Por outro lado, a casa do Senhor é casa de oração para todos os povos. Todos podem aceder ao santuário do Senhor, ao seu monte santo, à Sua aliança.
       «Respeitai o direito, praticai a justiça, porque a minha salvação está perto e a minha justiça não tardará a manifestar-se. Quanto aos estrangeiros que desejam unir-se ao Senhor para O servirem, para amarem o seu nome e serem seus servos, se guardarem o sábado, sem o profanarem, se forem fiéis à minha aliança, hei-de conduzi-los ao meu santo monte, hei-de enchê-los de alegria na minha casa de oração. Os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceites no meu altar, porque a minha casa será chamada 'casa de oração para todos os povos'».

Textos para a Eucaristia (ano A): Is 56, 1.6-7; Rom 11, 13-15.29-32; Mt 15, 21-28.