sábado, 15 de setembro de 2012

XXIV Domingo do Tempo Comum - ano B - 16 de setembro

       1 – A Epístola de São Tiago, segunda leitura, lavra a ligação íntima e fundamental entre a fé e a vida. O apóstolo exemplifica com situações concretas, reais e exequíveis.
       A religião e a fé em Cristo Jesus compromete-nos com as pessoas que vivem à nossa beira. Assim, o serviço aos mais desfavorecidos (aos órfãos e às viúvas) é inevitável na vivência autêntica da fé, assim como a “não aceção” de pessoas. Hoje, o apóstolo remete para mais uma situação clarificadora. Vale a pena ler atentamente: 
“De que serve a alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Poderá essa fé obter-lhe a salvação? Se um irmão ou uma irmã não tiverem que vestir e lhes faltar o alimento de cada dia, e um de vós lhe disser: «Ide em paz. Aquecei-vos bem e saciai-vos», sem lhes dar o necessário para o corpo, de que lhes servem as vossas palavras? Assim também a fé sem obras está completamente morta. Mas dirá alguém: «Tu tens a fé e eu tenho as obras». Mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé”.
       A fé autêntica, a que recebemos de Jesus Cristo, conduz-nos aos outros. Todos somos irmãos. Somos todos filhos de Deus. Quando mais estivermos vinculados a Deus, na oração, na escuta e reflexão da palavra de Deus, tanto mais estaremos ligados e comprometidos com aqueles que Deus colocou na nossa vida, para os servirmos como irmãos, para os acolhermos como presença de Deus.
       2 – Tudo começa n'Ele. A nossa vida. A nossa fé. A nossa conversão. Em Jesus Cristo, Deus vem ao nosso encontro, entra na nossa história, abre-nos as portas do Céu, reconcilia-nos com Ele, com os outros, com o mundo. Jesus clarifica o CAMINHO para Deus, precisamente com o serviço caritativo aos outros. Não vamos sós. Não estamos sós. Não nos salvamos sozinhos. Ele precede-nos. Dá o exemplo. Vive connosco no meio de nós. Atrai-nos com as palavras e com o pão, com a voz e com a Sua vida feita oração ao Pai e oferenda à humanidade.
       Não há compromisso social puro, autêntico, libertador, se antes não se der um encontro transformador com Jesus Cristo. A fé é DOM recebido, acolhido e aprofundado na partilha. A fé há de levar-nos a imitá-l'O, pelo que nos compromete nas obras, como expressão, visualização, e comprovação da nossa adesão firme a Jesus e ao Seu Evangelho de caridade.
       Tudo se inicia em Jesus. Ele desce de Deus e traz-nos Deus. Mas não Se impõe. Cabe-nos acolher a nossa vocação, o Seu chamamento. Cabe-nos escolher o caminho que nos guia ao CAMINHO. Cabe-nos, livremente, aceitar a salvação que Ele nos dá, deixarmos que a nossa vida se transforme por inteiro, interior e exteriormente, e sermos portadores desta boa notícia em nós, pelas palavras, pela profissão de fé, pela vida, pelas obras que resultam da nossa conversão a Jesus e do amor que nos habita, pelo Seu Santo Espírito.
       3 – É nesta lógica que Jesus exige de nós uma clara decisão. Não Se impõe mas propõe um caminho. Confronta-nos com a nossa escolha. Ainda que sejamos peregrinos, em conversão permanente, somos impelidos a responder por nós e com a nossa vida.
       Pergunta-nos Jesus, como o fez aos discípulos daquele tempo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?»
       Não basta a opinião dos outros. Não vale responder com o que ouvimos dizer, ou com a opinião corrente. Jesus pergunta-lhes e pergunta-nos: «Quem dizem os homens que Eu sou?» As respostas podem ser variadas: João Baptista; Elias; um dos profetas…
       Mas chega um momento em que se tornam insuficientes as respostas dos outros, precisamos de responder por nós. Quem é Jesus para mim? Que importância tem na minha vida? De que forma influencia as minhas escolhas na minha relação com os outros, com o mundo e comigo mesmo? Toca a minha alma? Mobiliza-me para a comunhão e para a comunidade? Posso dizer com Pedro: «Tu és o Messias», o enviado de Deus? És Deus para mim? És a minha salvação, a minha vida, o meu conforto e o meu descanso? És a minha bússola, o meu norte?
       É a nós que Jesus interroga – E vós quem dizeis que Eu sou? –. Que resposta dar? Não assobiemos para o lado como se não fosse nada connosco. É connosco que Jesus está a falar.
       “Deixai fazer, deixai ir, deixar passar” (laissez faire, laissez aller, laissez passer), pode valer para a economia de mercado, na não (ou na pouca) intervenção do Estado, e que pelos vistos não está a ter grande sucesso, mas definitivamente não vale na economia da Salvação. Deus age, vem, coloca-Se à nossa disposição e pede-nos uma resposta ao Seu projeto de salvação, conta connosco.
       4 – Jesus conta connosco mas não contemos com a vida facilitada. Aliás, sublinhe-se desde logo, quem segue um caminho de honestidade e de trabalho cedo descobrirá escolhos e inimigos. Não se pode agradar a toda a gente. «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á».
       Jesus anuncia tempos conturbados: o Filho do homem terá sofrer muito, será rejeitado pelos anciãos, pelos sumos-sacerdotes e pelos escribas; será morto e ressuscitará três dias depois. O sucesso da Sua missão não se vê claramente. Com clareza vê-se que o prosseguimento da Sua missão, do Seu amor, O levará muito rapidamente à morte.
       A contestação de Pedro é expressiva. Depois da sua confissão de fé, não entende que o desfecho não seja de todo positivo e atraente. É o fim das expetativas dos discípulos. E eles que pensavam que o reino de Deus seria imposto sem baixas e sem sofrimento, sem custo e sem esforço! E afinal vai custar pelo menos a vida do Mestre.
       E para que não restem dúvidas, as palavras de Jesus a Pedro são clarificadoras: «Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens»...

       5 – Perante as palavras de Jesus, não cabem respostas evasivas. Importa responder com a nossa vida. O caminho pode apresentar dificuldades, mas Ele está do nosso lado. E se está por nós, ninguém nos poderá separar do Seu amor. No sofrimento, na doença, na fragilidade, o que precisamos, muitas vezes, não é que sofram por nós ou nos tirem todas as dores, ou anulem a nossa sensibilidade, mas que possamos contar com um olhar confiante e confidente e nos garantam que não estamos sós, que não nos abandonam, que nos compreendem e que sabem da nossa vulnerabilidade e a aceitam como caminho.
       A Palavra de Deus não promete vida fácil, mas promete a presença permanente de Deus. O Seu olhar não se desviará do nosso, como na Cruz não se desprendeu da Mãe e não se desprendeu do Pai e não se desprendeu de nós. Por isso Ele nos dá Maria por Mãe, para que no seu olhar maternal descubramos e encontremos o olhar confiante e confidente de Deus e a certeza que nem a morte destruirá a nossa vida. Como rezamos com o salmo: “Livrou da morte a minha alma, das lágrimas os meus olhos, da queda os meus pés. Andarei na presença do Senhor, sobre a terra dos vivos... O Senhor guarda os simples: estava sem forças e o Senhor salvou-me”.
       Ou como visualiza o profeta Isaías:
“O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio e por isso não fiquei envergonhado… O meu advogado está perto de mim. Pretende alguém instaurar-me um processo? Compareçamos juntos. Quem é o meu adversário? Que se apresente! O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me?”
       A certeza que Deus vem salvar-nos, anima-nos a caminhar, conforta-nos, atrai-nos, puxa-nos para a frente e para cima. Compromete-nos. Abre-nos a Céu. Ilumina o nosso esforço e o nosso olhar. Não nos deixa desistir.


Textos para a Eucaristia (ano B): Is 50,5-9a; Sl 114 (116); Tg 2,14-18; Mc 8,27-35.

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