sábado, 17 de novembro de 2012

XXXIII Domingo do Tempo Comum - ano B - 18 de novembro

       1 – Disse Jesus aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas. Então, hão de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória... quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta. Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai».
       Jesus já Se encontra em Jerusalém, com os seus discípulos, anuncia-se breve o desenlace da Sua vida. Porquanto Ele acentua os aspetos mais importantes para viver o reino de Deus, anunciando e vivendo do mesmo jeito, a acolher, a amar, a perdoar, a curar, a dar a vida.
       Nas últimas semanas pudemos ver como Jesus vai instruindo os Seus discípulos. A estes falta a vivência da Paixão, da entrega total que o Mestre faz. Por uns instantes mais os discípulos mostram-se apreensivos, à espera do que vai acontecer, mas quase sempre na expectativa que a vida doravante lhes será bem mais favorável.
       Desde a confissão de Pedro, palavras reconhecidas por Jesus como inspiração de Deus Pai, que tudo parece estar a funcionar mal. Pedro repreende Jesus quando Ele anuncia o sofrimento, a paixão. Ora, os discípulos discutem quem será o maior entre eles. Tiago e João pedem os lugares principais, logo os outros contestam por desejarem o mesmo. Repreendem quem anuncia e faz milagres em nome de Jesus e que não integra o grupo, sentindo que dessa forma o seu poder seria divido por mais um.
       Jesus mostra com evidência que o caminho é do serviço. Quem quiser ser o primeiro seja o último. Quem quiser ser o maior, seja o servo de todos, como Ele que não veio para ser servido mas para servir e dar a vida pela humanidade. Apresenta as crianças, colocando-as no centro, pois só com simplicidade e transparência nos podemos entranhar no Reino de Deus por Ele instaurado. E com a inclusão de todos, começando pelos excluídos e marginalizados, doentes, mulheres, crianças, publicanos, leprosos. Para Deus todos são igualmente filhos bem-amados.
       2 – As palavras de Jesus evocam a mensagem apocalíptica presente na Sagrada Escritura, como por exemplo em Daniel, na primeira Leitura: “Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande chefe dos Anjos, que protege os filhos do teu povo. Será um tempo de angústia, como não terá havido até então, desde que existem nações. Mas nesse tempo, virá a salvação para o teu povo,… Os sábios resplandecerão como a luz do firmamento e os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça brilharão como estrelas por toda a eternidade”.
       Numa leitura superficial e imediata, a mensagem de Jesus e de Daniel é terrífica, anuncia um tempo de grande convulsão, de guerra, terror por toda a parte. Até o universo concorrerá para tamanha violência. As entranhas revolver-se-ão, o cosmos entrará em destruição.
       Numa leitura mais atenta, vemos como são belas e encorajadoras as palavras que nos são propostas. A linguagem é apocalíptica, muito marcada, contudo, pela esperança, pela certeza que Deus guia a história e o tempo. Mesmo os fenómenos mais medonhos não vencerão a força do amor, a grandeza de Deus. Em Daniel, o Anjo é enviado para proteger, para salvar o povo. Não é um tempo de desgraça que se anuncia mas um tempo de alegria, de júbilo, de vida nova.
       No Evangelho, Jesus anima os Seus à confiança. Não temais. Quando virdes acontecer estas coisas sabei que o tempo de salvação está próximo, mesmo à porta.
       Mais uma vez é expressiva a situação da mulher que está para ser mãe. Os incómodos, as dores, a indisposição, a angústia, durante a gravidez e de forma mais acentuada no parto, são mais ou menos suportáveis pela alegria que está para acontecer com o nascimento do filho. Vale uma vida inteira. Vale todo o sofrimento. A mãe não consegue explicar tamanho milagre, esquece (quase) por completo o sofrimento que ainda agora experimentava.
       A salvação pode implicar a Cruz, esta porém não é em nada comparável à LUZ que vem das alturas, que vem da Ressurreição, que por Jesus nos chega da eternidade, pelo Espírito Santo.
        3 – Enquanto anuncia momentos dolorosos, Jesus garante a salvação, garante a eternidade e sublimidade das suas Palavras, que não passarão. Passará o Céu e a Terra, mas as Suas palavras são eternas, são vida nova, são alimento, são luz no nosso peregrinar frágil e finito. No meio da tormenta ou da festa, no mar revolto, ou na serenidade da primavera, na fragilidade da doença, da solidão e da morte, ou na beleza do céu estrelado, da paisagem pintada de mil cores, no sorriso de uma criança, encontrar-nos-emos com Ele, Deus nosso, Mestre, Companheiro, Bom Pastor, Amigo próximo e fiel. Ele não falhará. Podemos não O ver aqui ou acolá. Poderão os nossos olhos estar enublados pelas lágrimas, pelo cansaço, pelo desencanto. Ele não dormirá, não Se afastará dos nossos gritos e lamentos, dos nossos sonhos desfeitos. Não Se esconderá do nosso olhar e da nossa súplica ardente, que muitas vezes nos queima a alma e nos destrói por dentro.
       Esta garantia não aligeira a nossa responsabilidade para com os outros, o nosso compromisso com a verdade, com a justiça e com o bem. Pelo contrário, sabermos que Ele estará sempre, mesmo quando O não encontramos com o nosso coração, deverá ser força que nos anima a procurá-l'O mais e mais, no mundo, e naqueles que Ele mais ama, nos mais frágeis de nós, nos pequenos deste mundo. Dar esperança a quem a não tem, para também nós fortalecermos com eles a nossa esperança.
       4 – Jesus precede-nos na CRUZ e na Glória. Oferece toda a Sua vida, como Sumo-sacerdote, de uma vez para sempre, UM por todos, oblação pura, sem mancha. Traz-nos Deus, dá-nos Deus, eleva-nos para Deus. Rasga o Céu, e vem. Vencerá a morte para nos dar a VIDA em abundância.
“Cristo, tendo oferecido pelos pecados um único sacrifício, sentou-Se para sempre à direita de Deus, esperando desde então que os seus inimigos sejam postos como escabelo dos seus pés. Porque, com uma única oblação, tornou perfeitos para sempre os que Ele santifica. Onde há remissão dos pecados, já não há necessidade de oblação pelo pecado”.
       Somos peregrinos. Não caminhamos sós. Ele vai connosco. Levamos os irmãos. Guiam-nos os Santos. Sabemos que o chão que pisamos é sagrado, é chão que nos une ao universo inteiro, a todo o humano, é vida que pulsa desta terra, até aos confins do mundo.
       Com o salmista, rezamos a confiança em Deus próximo, para caminharmos mais seguros:
“Senhor, porção da minha herança e do meu cálice, / está nas vossas mãos o meu destino./ O Senhor está sempre na minha presença, /com Ele a meu lado não vacilarei”.
       Vivemos a Semana dos Seminários que agora concluímos. Este salmo mostra como a tribo de Levi não tem outro chão, outra terra, outra herança, que não seja Deus. Enquanto as outras tribos têm propriedade, esta conta com as dádivas do templo e com a fé das pessoas que contribuem. É um salmo de entrega, de confiança, de louvor. A segurança não lhes vem da terra mas de Deus.
“Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta / e até o meu corpo descansa tranquilo. / Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos, / nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção”.


Textos para a Eucaristia (ano B): Dan 12, 1-3; Sl 15 (16); Hebr 10, 11-14.18; Mc 13, 24-32.

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