sábado, 13 de julho de 2013

XV Domingo do Tempo Comum - ano C - 14 de julho

       1 – Sigamos Jesus. Como discípulos procuremos acompanhá-l'O, escutá-l'O, compreender a Sua mensagem. Como BOM SAMARITANO, Ele vem ao nosso encontro, unge-nos com o óleo da caridade, cura as nossas enfermidades, os nossos medos, ilumina as nossas trevas, retira-nos do círculo da morte e da violência, abre-nos o coração de Deus. Traz-nos a eternidade, faz-nos viver humanamente, para nos tornarmos definitivamente imagem e semelhança de Deus.
       No meio da multidão, onde nos queremos com Ele, um doutor da Lei quer testá-l'O. Não é o único. Talvez em alguns momentos da nossa vida quereríamos que Jesus fosse mais evidente (contra o mal), mesmo à custa de parte da nossa liberdade, que Ele respeita e promove. Por que não uma receita para a nossa conduta: «Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?».
       A primeira resposta de Jesus aponta para a terra, a história e a vida dos homens, para a Sagrada Escritura, palavra de Deus em palavras humanas, vivência da fé do povo eleito. Procuramos no Céu, e a Sua Palavra está entre nós, busquemos, não o extraordinário mas o quotidiano, entre as pessoas que caminham connosco. Deus encontra-nos no nosso caminho. Acha-nos. Para O encontrarmos, basta procurá-l'O nos nossos irmãos. O que diz a Lei? Pergunta Jesus.
       «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo».
       O doutor da Lei afinal sabe o que é necessário para viver, isto é, para entrar na comunhão com Deus: colocar Deus como prioridade para melhor servir os irmãos.
       Com efeito, a Lei dada a Moisés, o mandato divino, não é nada que não seja acessível aos crentes. “Este mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu alcance... Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática”.

       2 – Se dúvidas subsistissem, Jesus convida a procurarmos as respostas em nós, com a ajuda da daqueles que nos precederam. Como dissera Moisés, a Lei não se impõe, pois está inscrita no nosso coração. Trazemos em nós as marcas da nossa origem e filiação divinas. Daí a urgência da oração mais diligente, de um diálogo constante com Deus, com o nosso íntimo, com a voz da nossa consciência. Daí a necessidade do silêncio e da contemplação, da escuta atenta da palavra de Deus.
       Jesus não apresenta soluções mágicas, receitas que encaixem para todos. Convida a refletir, a encontrar caminhos, a deixar-Se tocar pela Graça, a inspirar-nos pelo Espírito Santo que nos habita. Seguimo-l'O, vemos como Ele faz. Escutamos as Suas palavras. Absorvemos os Seus gestos, a Sua entrega constante. Vislumbramos a Sua postura, a Sua opção preferencial pelos mais pobres. E depois caber-nos-á a nós assumir a Sua maneira de agir, para sermos verdadeiramente Seus discípulos.
       E quem é o meu próximo? Pergunta o doutor da Lei e perguntamos nós. É aquele com quem simpatizo, que pertence ao meu grupo de amigos, à minha religião, ao meu partido, ao meu clube, à minha ideologia? É aquele que pensa como eu? Que se identifica com a minha maneira de ser e de viver? É aquele que me merece admiração e respeito?
       A resposta de Jesus é, antes, a formulação de nova pergunta. Cabe-nos a resposta:
«Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio- morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o mesmo».
        3 – A parábola do Bom Samaritano, mais um exclusivo de São Lucas, é uma extraordinária lição sobre o amor de Deus. Ele é Pai de misericórdia, que ama, que nos chama à vida, que acredita em nós. É Deus fiel. Sanciona a nossa liberdade, como na parábola do filho pródigo. Ama-nos até ao sofrimento, até ao infinito. Quebra todos os limites. Deixa-nos partir, mas o Seu olhar permanece em nós, sobre nós, fixa-se no nosso coração. Espera. Leva a paciência ao grau mais elevado. Faz festa quando nos reencontramos com a vida.
       Assim o Pai de Jesus Cristo, assim o Filho, assim os discípulos.
       Deus não fica passivamente à nossa espera. Ele age com o Seu amor. Atrai-nos. Respeita-nos. A porta está aberta. Saímos. A porta não se fecha, como quando saímos de nossas casas. Com efeito, a casa está escancarada. É o Coração de Deus. É um AMOR pró-ativo. (Não é passivo ou reativo). Ama-nos primeiro. Procura-nos. As Suas entranhas revolvem-se quando nos afastamos e com as trevas procuramos esconder a luminosidade do Seu amor e da Sua presença em nós. Ele é o Bom Samaritano. Não se limita a uma circunscrição religiosa, política, ideológica ou de conveniência. Abraça. Todos. Sem exceção. Reabilitando sobretudo os excluídos da vida.
       No caminho de Jericó também estamos nós. Ora como vítimas da violência, do preconceito, da desconfiança, da prepotência. Ora passamos como sacerdotes ou levitas, dispostos a ajudar os nossos, ou quando as circunstâncias forem mais favoráveis e que não nos tragam dissabores, mas não aqueles que consideramos estranhos, desconhecidos, estrangeiros, que fazem parte de outro grupo, de outro partido, de outra religião. Podem ser perigosos! Podem incomodar a nossa letargia… desinstalar-nos!
       No caminho de Jericó, somos samaritanos, sempre que deixamos de lado o egoísmo e a presunção e ajudamos sem estarmos à espera que nos solicitem. Ide e fazei o mesmo. Diz-nos Jesus. Como Eu fiz, fazei vós também. Dai-lhes vós mesmos de comer. Compromisso. Hoje. Não podemos passar ao largo com indiferença, ou deixando que outros façam, ou lavando as mãos como se não fosse connosco, por que não é dos nossos. Ou culparmos a situação presente, desculpando a nossa inação. A mesma pergunta Deus nos faz hoje: onde está o teu irmão? E como responder? Acaso sou guarda do meu irmão? Se somos discípulos de Jesus, arregaçamos as mãos, cingimos os rins, e corremos, sem peias nem teias, e ajudamos, corremos ao encontro do outro.
       Próximo é aquele que precisa da minha ajuda. Mais, próximo sou eu quando me aproximo do outro para ajudar. E é bom que me faça próximo, já que me digo discípulo de Cristo.
       4 – A história da salvação é a história da Aliança de Deus com o Seu povo, com a humanidade inteira, a começar em Abraão. Deus não é Juiz equidistante, sentado no seu cadeirão a ver a humanidade destruir-se. É o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacob, é o Deus de Israel. Está identificado com pessoas e com o povo que é eleito em ordem à bênção de todos os povos. É o Deus de Jesus Cristo, próximo, que vem ao nosso encontro, que Se debruça para nos levantar, que nos pega na mão, como a mãe ao filho, que nos socorre, nos lava os pés, e cura as nossas feridas.
“Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis... Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus”.
       Nós somos o Seu Corpo, a Igreja. Através de nós, Ele continua a ser o Bom Pastor, o Bom Samaritano.


Textos para a Eucaristia (ano C): Deut 30, 10-14; Col 1, 15-20; Lc 10, 25-37.

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