sábado, 5 de outubro de 2013

XXVII Domingo do Tempo Comum - ano C - 6 de outubro

       1 – O Papa Bento XVI, ao convocar o Ano da Fé, quis colocar a Igreja a refletir e a avivar as raízes da sua fé, a tornar mais visível a esperança, testemunhando-a em obras concretas, na transformação pessoal e comunitária. Iniciou-se 11 de outubro de 2012, 50 anos passados sobre a grande bênção para a Igreja que foi o Concílio Vaticano II, oportunidade para a Igreja se tornar Sacramento de Salvação, sinal e expressão da Presença de Cristo no mundo. Sob a inspiração do Espírito Santo, a Igreja foi chamada a meditar em Si mesma para melhor servir a Palavra de Deus e tornar mais efetivo o compromisso com os homens e as mulheres deste tempo. 20 anos após a publicação do Catecismo da Igreja Católica, a síntese mais completa dos ensinamentos, verdades, vivências da fé católica, para que os crentes apreendam toda a riqueza que os une e possam comunicar a beleza e a riqueza do Evangelho, em linguagem compreensível nos dias que passam, traduzida em palavras e gestos de partilha solidária e de comunhão fraterna.
       É de FÉ que HOJE a liturgia da Palavra nos fala.
       O pedido humilde dos apóstolos: «Aumenta a nossa fé».
       A resposta decidida de Jesus:
«Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e beberás tu’? Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’». 
       Jesus desafia à confiança, viver a fé de forma humilde mas simultaneamente corajosa, sem reservas, como o senhor que ordena o serviço aos seus servos, sem falsas modéstias, não deixando que as dúvidas e hesitações momentâneas se tornem paralisantes. Viver a fé como quem se lança numa aventura, como aposta, um salto no escuro, ou melhor um salto na LUZ de Jesus Cristo, que nos mostra o Pai e tudo o que nos ampara, o AMOR, do qual nem a morte nos separará. A fé envolve a confiança e a entrega. Como a criança se lança de encontro aos braços da mãe/pai, sem calculismos. Com a idade, a pessoa deixa de se atirar... Nem sempre é fácil!
       A propósito, uma significativa imagem de Santo Agostinho: “ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus escreva nela o que quiser”. Temos consciência que é mais fácil pedir a Deus que se faça a nossa vontade e não tanto a Sua, como rezamos no Pai-nosso.
       2 – Na primeira carta Encíclica, Lumen Fidei, o Papa Francisco, em sintonia estreita com Bento XVI, diz-nos que a fé é sobretudo luz, ainda que haja momentos de grande sofrimento, em que a dúvida assola, em que a confiança fica abalada, como se o chão debaixo de nós estivesse a desaparecer. Com efeito, “a fé não é luz que dissipa todas as nossas trevas, mas lâmpada que guia os nossos passos na noite, e isto basta para o caminho... o serviço da fé ao bem comum é sempre serviço de esperança que nos faz olhar em frente, sabendo que só a partir de Deus, do futuro que vem de Jesus ressuscitado, é que a nossa sociedade pode encontrar alicerces sólidos e duradouros” (n.º 57).
       O profeta Habacuc ajuda-nos a formular os nossos medos, melhor, os sofrimentos que atrapalham a nossa confiança em Deus, e no futuro. Há momentos em que a vida parece madrasta. Pedimos sinais e não vemos com clareza um caminho, uma abertura. Tudo parece em vão, fugidio, injustificável. Tristeza. Solidão. Doença. Traição. Morte de alguém próximo. Expetativas defraudadas, em relação a um emprego, a uma pessoa, a uma situação do dia-a-dia.
       Se há em nós resíduos de fé, ainda que tenhamos o coração atolado de dúvidas, lá vamos questionando Deus: «Até quando, Senhor, chamarei por Vós e não me ouvis? Até quando clamarei contra a violência e não me enviais a salvação? Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a injustiça? Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia?» 
       E Deus não deixará de nos responder. Não se eliminam as dúvidas e contrariedades, mas sobrevém a presença de Deus, que nos atrai do futuro, da eternidade: «Põe por escrito esta visão e grava-a em tábuas com toda a clareza, de modo que a possam ler facilmente. Embora esta visão só se realize na devida altura, ela há de cumprir-se com certeza e não falhará. Se parece demorar, deves esperá-la, porque ela há de vir e não tardará. Vede como sucumbe aquele que não tem alma reta; mas o justo viverá pela sua fidelidade». 
       Só em Deus, através da Luz da Fé (Lumen Fidei), encontramos alicerces sólidos e verdadeiros que nos permitem viver e contruir laços de amizade, de ternura e de comunhão, e mutuamente procurar ultrapassar, compreender, relativizar tudo o que entendemos ser empecilho. A certeza de que Deus, Pai/Mãe, está na nossa vida, assegura-nos um chão que nos permite viver confiantes, apesar dos tropeços que encontramos no caminho.

        3 – Senhor, aumenta a nossa fé. Não apenas a minha fé, mas a fé da Igreja, vivida em comunidade, partilhada, celebrada. Imaginemos, como há tempos referia o Papa Francisco, que estamos num estádio de futebol, às escuras, e se acende uma pequena de luz (um isqueiro, uma vela), e cada um acende a sua pequena luz. Com cada pequena luz acesa, em conjunto, o estádio fica mais iluminado, sendo possível ver pessoas e os seus rostos.
       A fé, individual, isolada, privada, é uma mentira. Ou meia verdade. Fica incompleta. A fé acolhe-se pessoalmente, mas necessita de se expressar e exercitar em comunidade, senão esmorece. É como os sentimentos. Não posso amar sozinho. Amar e ser amado, é o desiderato essencial da vida. Mas como amar se não tiver a quem? Como me sentir amado, se não houver ninguém. Assim a fé, ou pelo menos a fé em Cristo Jesus.
       O apóstolo são Paulo exorta Timóteo a reavivar o dom de Deus, nele e nos outros. Não com timidez, mas com coragem.
“Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro. Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus. Toma como norma as sãs palavras que me ouviste, segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo. Guarda a boa doutrina que nos foi confiada, com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós”.
       O desafio de Jesus aos apóstolos é sancionado por Paulo aos discípulos. Mesmo no sofrimento e na perseguição, há que manter firme a fé e a confiança em Deus, continuando a viver segundo a Sua vontade, na caridade e no serviço, confiando no Seu poder, no Seu amor por nós, alimentando-nos da Sua palavra, com o auxílio do Espírito Santo que nos habita.

Textos para a Eucaristia (ano C): Hab 1,2-3; 2,2-4; 2 Tim 1,6-8.13-14; Lc 17,5-10.

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