domingo, 2 de fevereiro de 2014

Fernanda Serrano - Também há finais felizes

FERNANDA SERRANO. Também há finais felizes. Oficina do Livro. Alfragide 2013, 3.ª edição, 246 páginas.
       Partindo do título que nos é proposto, constatações imediatas: perante situações aflitivas é possível que haja esperança, pois a prática mostra que há situações que nos levam a bom porto, apesar do percurso atribulado e das tempestades que têm de se enfrentar.
       Esta é uma história de vida que poderia ter um fim trágico e que pelo meio poderia ter deixado sequelas de desgaste e destruição nunca recuperáveis. A conhecida atriz, do teatro e da televisão, e também manequim, tinha uma vida que muitos desejaria, sucesso, visibilidade, uma família unida, pais, marido, e com o segundo filho, uma menina, pareceria uma família completa. Mas a vida dá muitas voltas, e nem sempre apanhamos o comboio.
       Nasce a filha e quase por acaso a atriz descobre um caroço na mama direita. Como mulher e mãe procura manter-se tranquila, mas com uma inquietação crescente. O obstreta tranquiliza-a. A Mãe insiste para que por uma vez tire a limpo o que poderá ser aquele caroço. Dar de mamar à filha tornou-se cada vez mais doloroso, amamentando progressivamente apenas do peito esquerdo, tal o desconforto. Depois de alguma insistência, o obstreta lá lhe recomenda um exame específico, e o que temia aconteceu: tinha um nódulo maligno na mama direita. Há que secar o leite e preparar-se para retirar o peito ou pelo menos em parte. A família está em pânico. Ela, o marido, os pais e alguns amigos chegados. Enquanto pode mantém este segredo em família e no círculo mais chegado, só depois da operação o dará a conhecer ao país.
       Com a operação marcada para retirar a mama do lado direito, consulta outro médica que aconselha mais positivamente a retirar apenas parte pois o temor ainda está circunscrito. Operada tudo corre pelo melhor. Volta a fazer uma vida quase normal, preparando-se para voltar ao teatro e à televisão. está tudo a correr bem. Consulta de novo o seu obstreta a fim de precaver alguma gravidez que tem de evitar a custo, pelo menos nos 2 anos subsequentes à operação. Entretanto coloca o DIU pelo facto de não lhe ser aconselhado a tomar pílula. Durante três anos estará descansada quanto a gravidezes. Durante a quimioterapia não haveria o risco de engravidar.
       Pratica desporto, tem uma alimentação muito regrada, prepara-se em definitivo para fazer uma vida normal, como mãe, como esposa, como atriz. Vai emagrecendo. Menos a barriga. Até que decide fazer um teste de gravidez e outro e outro e está mesmo grávida, de 17 semanas. Quanto colocou o DIU já estava grávida. Correria para médicos. Drama. Indefinição. Corre sério risco de vida. A recomendação mais importante que lhe tinha sido dada era precisamente não engravidar. Está em risco a sua vida. Tem dois filhos para criar. Tem de decidir rapidamente. Em Portugal já não é possível fazer um aborto, a não ser que tivesse sido violada. Ainda assim os médicos dizem-lhe que tem de decidir rapidamente pois corre o sério risco de deixar órfãos os seus filhos.
        Pede um sinal a Nossa Senhora de Fátima. "Sempre fui católica, mas nunca praticante. Era raro ir à missa ou rezar, não ligava nada a essas coisas. Quando passamos por situações delicadas agarramo-nos a tudo. Pode ser egoísmo - só nos lembrarmos nos momentos de aperto e de susto - mas, por outro lado, também é humano. Durante o meu processo clínico tornei-me muito mais crente. Muito mais... Orar, para mim, era uma conversa. Ainda hoje é. Dava graças a Deus pelo que tinha de bom, pedia que tudo se mantivesse bem, para mim e para as pessoas de quem gosto".
       Uma das suas amigas diz-lhe: "Pede uma resposta a Nossa Senhora e acredita que dentro de três dias vais tê-la". Entretanto decide-se a ligar para um especialista em medicina tradicional que a acompanha na recuperação e que lhe diz que a gravidez não acrescenta risco, pois o cancro não decorria de alterações hormonais e o feto em princípio ter-se-ia mantido protegia da intoxicação da quimioterapia. Consulta outro especialista, que lhe diz que a doença está controlada, que o cancro não era hormona-dependente e que a gravidez não acrescenta riscos para este cancro. A decisão desenha-se noutro sentido.
       "Nessa noite tive um sonho lindo, lindo. Sonhei com crianças, com bebés, coma amigas minhas que haviam sido mães há pouco tempo... já não sobravam dúvidas sobre nada. Aquela menina ia nascer. A resposta que tanto procurava, e que pedira a Nossa Senhora na noite de ano novo, chegara mesmo no prazo de três dias".
       Esta é uma leitura que vai valer a pena. Nem todas as histórias são iguais, pois as pessoas e as circunstâncias são diferentes. A história de Fernanda Serrano é comovente, mas é também um AVISO sério às mulheres e aos médicos que as tratam, para que não adiem, para que não façam de conta quando detetam alguma sinal de alarme. É uma história motivadora, de alguém que nunca desistiu, mesmo e apesar de horas bem negras e absolutamente sobre humanas. É uma história de fé, através da qual sempre sentiu sinais de Deus através de Nossa Senhora. É uma história de família. Esta foi um esteio, de apoio, de refúgio, de suporte físico e emocional, de bênção. É uma história de generosidade, e competência. Há muitos erros e alguns são fatais. Há, em contrapartida, pessoas extraordinariamente atentas, disponíveis, competentes, delicadas.
       Não deixe de ler e recomendar. A todas as mulheres. Mas também a todos os familiares, todos temos irmãs, mãe, pessoas amigas.

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