segunda-feira, 29 de junho de 2015

A festa e a vivência da fé cristã

       Nestes meses de verão, as festas populares acentuam a festa, o convívio, o encontro feliz e descontraído de pessoas, famílias, grupos. O tempo de férias – para aqueles que têm trabalho e possibilidade de fazer férias – e o tempo quente convidam a sair e a permanecer em espaços mais frescos e recostar-se numa esplanada, num jardim; os dias maiores e as diferentes propostas culturais e lúdicas, em abundância; o regresso de familiares que vivem em outras paragens e que orientam a vinda à terra natal para esta altura do ano… possibilitam muitos reencontros!
       Na nossa região, as festas populares têm forte carga religiosa, ainda que por vezes seja apenas um motivo para festejar. Parece-me que todos precisamos da festa, mesmo que a vivamos de maneira distinta.
       A este propósito, sugerimos a seguinte leitura: M. Barros e P. Carpanedo (1997), Tempo para Amar. Mística para viver o ano litúrgico. São Paulo: Paulus.
       Nesta reflexão é possível constatar que a festa tem uma dinâmica teológica e pode ser fundamentada biblicamente. O povo de Deus, como a Igreja, vive em ciclos litúrgicos que se concretizam/visualizam nas grandes festas, como a Páscoa ou Pentecostes. A mudança de ciclo, ou de estação, é marcada por festejos.
       Deus cria-nos por amor, para a felicidade. Sem esconder as nossas limitações biológicas, a nossa fragilidade afetiva e a finitude temporal – que provocam medo, apreensão, sofrimento –, a vida, desde a infância à velhice, faz-nos sonhar e buscar a alegria, o bem-estar, o conforto, a festa, o encontro com os outros, a partilha e a comunhão. Depois das provações, a festa, para louvar e agradecer, e suplicar o futuro. A dança, a comida e a bebida, a refeição em família e na tribo, pressupõem-se em qualquer comemoração. Assim acontece também nas nossas festas cristãs. A festa litúrgica e/ou popular engloba o convívio, que prolonga e valoriza o acontecimento celebrado.
       Algumas expressões do livro sugerido:
"O Deus da vida não nos quer apenas à beira do seu poço. Quer que daí irrompam liturgias de vida, em que possamos receber gratuitamente o seu mistério, e mais ainda: que possamos sorvê-lo como água viva que nos sacia, unindo acolhimento do dom e prazer...
"A verdadeira festa reúne pessoas que têm algo em comum para comemorar e realizam-se para expressar o seu amor...
"Viver a fé não é aprofundar uma doutrina. É experimentar a alegria do amor no seguimento de Jesus Cristo, testemunhando a vinda do Reino de Deus a este mundo".

publicado na Voz de Lamego, n.º 4319, ano 85/32, de 23 de junho de 2015

sábado, 27 de junho de 2015

Domingo XIII do Tempo Comum - ano B - 28 de junho

       1 – O mistério do sofrimento humano esbate com a bondade e a omnipotência de Deus.
       A doença, sobretudo crónica, a deficiência, a morte, a traição de um amigo, a infidelidade do companheiro/a, a violência doméstica, a depressão, a falta de emprego e de expetativas de um futuro risonho, a maledicência. A guerra, a pobreza, a toxicodependência, as guerrilhas, a corrupção, a exploração infantil, o trabalho escravo. A vulnerabilidade da dignidade e da vida humana, o fosso entre ricos e pobres, a imposição de uma economia que esmaga pessoas e famílias, para garantir estatísticas mais positivas. O otimismo idolátrico com a evolução técnica e científica não diminuiu o sofrimento, a perseguição, a miséria humana, as epidemias!
       A religião garante-nos que Deus é sumamente bom e Todo-poderoso, pelo que estamos à Sua mercê. Rezamos para que Ele olhe com benevolência para nós e para a nossa frágil condição humana. A Bíblia procura conjugar o sofrimento com a omnipotência divina e com a compaixão de Deus. Mas não há respostas fáceis. Aqueles a quem a vida corre bem, na abundância dos filhos, dos bens e dos anos, são abençoados por Deus, porque são justos e praticam o bem. Os maus são castigados por Deus e sofrem na pele a consequência do seu mau proceder. Um exemplo sugestivo é a figura de Job, que coloca o seu sofrimento diante de Deus e da Sua justiça. Sempre foi justo e foi castigado por Deus. Onde está a justiça de Deus? No final, Deus mostra que está acima e além da nossa compreensão humana. Revela-Se, mas não é controlável pelas nossas razões.

       2 – A revelação bíblica, mais que conceções filosóficas e abstratas, traz-nos a história concreta do povo que faz a experiência de um Deus que não desiste nunca do seu povo. Quando Se retira, afastado pela maldade e infidelidade humanas, Deus "arranja" forma de Se manifestar, intervindo com sinais e com o chamamento/envio mensageiros.
       Nem tudo corre como expectável e o povo quase desaparece, mas Deus não desiste da Sua vinha, ainda que tenha de fazer enxertos ou até confiá-la a outros vinhateiros. A Encarnação é a resposta plena de Deus aos anseios humanos. Haveria outras maneiras de Deus nos mostrar o Seu amor? Com certeza. Poderíamos intentar razões ou justificações ou possibilidades. O certo é que Deus, em Jesus, assume-nos por inteiro, faz-Se um de nós, identifica-Se com a nossa fragilidade e com o nosso sofrimento, vem morar connosco.


       3 – O evangelho é revelador da condição humana. O sofrimento está aí com evidência. A doença crónica que faz desesperar aquela mulher e a morte de uma filha. Jesus depara-Se com muitas situações de pobreza, exclusão e sofrimento. Humanamente não é possível eliminar todo o mal. Divinamente não é possível anular todas as limitações sem hipotecar a liberdade humana.
       Jesus não gasta tempo a explicar o sofrimento, ou a culpar alguém. Compadece-Se e faz por minorar e vencer as adversidades.
       Há uma multidão que procura Jesus, por motivos variáveis. A multidão pode ajudar-nos a encontrar Jesus, mas pode também impedir-nos de chegar perto d'Ele. Um dos chefes da Sinagoga, Jairo, suplica a Jesus: «A minha filha está a morrer. Vem impor-lhe as mãos, para que se salve e viva». Jesus larga o que está a fazer e segue Jairo até sua casa.
       No meio da multidão, uma mulher, cuja doença a afasta da convivência social, aproxima-se sorrateiramente de Jesus, toca-lhe na fímbria do manto e fica curada. Revejamos os passos. Não se trata de magia. É a força de Jesus que a liberta e a cura. Apertado por todos os lados, Jesus percebe que alguém, com nome e com rosto, O tocou. Para e diz a esta mulher que não precisa de ter medo ou vergonha: «Minha filha, a tua fé te salvou».
       Contraponto à sensibilidade e atenção de Jesus, a insensibilidade e a distância dos discípulos: «Vês a multidão que Te aperta e perguntas: ‘Quem Me tocou?’».


       4 – Entretanto, da casa de Jairo vêm dizer-lhe que já não adianta importunar Jesus, pois a menina morreu. Não há nada a fazer. Pelo menos para nós. Para Jesus há mais a fazer. Prossegue. "Basta que tenhas fé", diz Jesus a Jairo. Tinha dito àquela mulher que ousou aproximar-se e tocar-lhe no manto: "A tua fé te salvou". Para que haja cura, ressurreição e vida é necessário o nosso assentimento. Deus não age sem nós, contra a nossa vontade. Conta connosco e respeita-nos.
       Ao chegar a casa de Jairo, Jesus encontra grande alvoroço, com pessoas a chorar e a gritar. Garante aos presentes que a menina está apenas a dormir. A fé é um dom mas também um caminho, não se impõe. Jesus tinha uma oportunidade de ouro para dar espetáculo, mas usa de descrição. O mais importante é o bem da menina. "Depois de os ter mandado sair a todos, levando consigo apenas o pai da menina e os que vinham com Ele, entrou no local onde jazia a menina, pegou-lhe na mão e disse: «Talita Kum», que significa: «Menina, Eu te ordeno: Levanta-te». Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar, pois já tinha doze anos. Ficaram todos muito maravilhados. Jesus recomendou-lhes que ninguém soubesse do caso e mandou dar de comer à menina".
       Novamente Jesus pede para que não se faça publicidade, há que fixar-nos no essencial, a escuta da Palavra de Deus, a conversão, a prática do bem, o serviço aos irmãos.

       5 – A primeira leitura prepara-nos para acolher o Evangelho. Deus é um Deus de vida e de vivos, que quer o nosso bem: «Não foi Deus quem fez a morte, nem Ele Se alegra com a perdição dos vivos. Pela criação deu o ser a todas as coisas, e o que nasce no mundo destina-se ao bem. Em nada existe o veneno que mata, nem o poder da morte reina sobre a terra, porque a justiça é imortal. Deus criou o homem para ser incorruptível e fê-lo à imagem da sua própria natureza».
       Tradicionalmente afirma-se que o Deus revelado no Antigo Testamento é um Deus severo, castigador, pronto a subjugar o ser humano que se transvia pelo pecado, juiz implacável, Senhor das distâncias. No entanto, como podemos constatar no livro da Sabedoria, o Deus do Antigo Testamento não se opõe ao Deus que Jesus revelará, é o mesmo Deus próximo, que intervém positivamente no mundo, conduzindo a história. Deus criou-nos para a vida e para a felicidade.

       6 – Com a chegada de Jesus e o mistério da Encarnação, Deus entra em definitivo em comunhão connosco, revelando-Se em plenitude como Deus de Amor.
        Diz-nos o apóstolo São Paulo, ao falar-nos de Jesus: «Ele, que era rico, fez-Se pobre por vossa causa, para vos enriquecer pela sua pobreza». Esta revelação exige que cada um de nós, como seguidores de Jesus, procuremos agir do mesmo modo na relação com os outros, cuidando dos mais frágeis.
"Já que sobressaís em tudo – na fé, na eloquência, na ciência, em toda a espécie de atenções e na caridade que vos ensinámos – deveis também sobressair nesta obra de generosidade... Não se trata de vos sobrecarregar para aliviar os outros, mas sim de procurar a igualdade. Nas circunstâncias presentes, aliviai com a vossa abundância a sua indigência para que um dia eles aliviem a vossa indigência com a sua abundância. E assim haverá igualdade, como está escrito: «A quem tinha colhido muito não sobrou e a quem tinha colhido pouco não faltou».
       A nossa caridade deriva da caridade de Jesus Cristo que nos assumiu na nossa pobreza.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (B): Sab 1, 13-15: 2, 23-24; Sl 29 (30); 2 Cor 8, 7. 9. 13-15; Mc 5, 21-43.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Tabuaço | São João Batista | Padroeiro do Município

       A solenidade do nascimento de São João Batista, a 24 de junho, é comemorada de forma especial nos concelhos em que é o Padroeiro Municipal. Em Tabuaço e nos concelhos vizinhos, como São João da Pesqueira, Armamar, Moimenta da Beira, São João é a oportunidade para juntar as pessoas dos respetivos concelhos, á volta desta invocação e com momentos muitos diversos.
       Se o motivo é religioso, então a vivência mais religiosa também tem lugar nesta festa popular, com a Missa solene e com a Procissão, e que nos últimos anos trouxe até à vila e paróquia de Tabuaço as imagens dos padroeiros das paróquias/freguesias e de alguns lugares, envolvendo, desta forma, todo o concelho.
       A celebração da Eucaristia, presidida pelo pároco, contou com a presença amiga dos reverendos sacerdotes, Pe. Jorge Giroto e Pe. Tiago Cardoso. O Pregador foi precisamente o Pe. Tiago Cardoso, Pároco em paróquias do Arciprestado de Moimenta da Beira, Sernancelhe e Tabuaço, Granjal, Lamosa, Segões e Quintela da Lapa, e ainda Alhais, na Zona Pastoral de Vila Nova de Paiva.
       Na pregação, o Pe. Tiago apresentou São João Batista como um modelo a seguir pela Igreja e pelos cristãos, utilizando algumas imagens: aquele que abre as portas para Jesus, que prepara a vinda do Messias, fecha as portas do Antigo Testamente e abre as portas do Novo; é como a Lua que irradia o brilho do Sol, isto é, São João Batista assume a sua vida e missão como uma espécie de "anulação" pessoal, para que Cristo possa emergir. Assim a Igreja. Assim os cristãos.
       Depois da celebração da Eucaristia, a Procissão com a invocação dos santos padroeiros das freguesias (e lugares) que compõem o concelho de Tabuaço. Algumas fotos deste dia:
Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Tabuaço
São Salvador, Padroeiro de Carrazedo
Santa Eufémia, Padroeira de Pinheiros
São João Batista, Padroeiro de Távora e do Município

Para ver as fotos disponíveis, visitar a Paróquia de Tabuaço no Facebook

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Encerramento da Catequese | Celebração do Crisma

       A Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Tabuaço, tem agendado para o próximo dia 4 de julho, pelas 17h00, a celebração do Sacramento da Confirmação / Crisma, integrando os jovens que frequentaram o 10.º ano de catequese neste ano pastoral e no ano anterior, bem como 4 adultos que ao longo do ano se foram preparando através da Escola da Fé.
       A presença do Sr. Bispo, D. António Couto, é uma oportunidade para a festa, para a vivência da fé, para o compromisso comunitário da paróquia inserida na Diocese de Lamego. Como Sucessor dos Apóstolos, o Bispo vem confirmar e renovar a fé, avivando a ligação de cada um e de todos ao Evangelho de Jesus Cristo.
       No dias anteriores um Tríduo de pregação, com o Pe. Jorge Giroto, para que a comunidade também se prepare para acolher bem D. António Couto e nele acolher com alegria a Palavra de Deus, preparando também para testemunhar a celebração do Crisma de alguns membros da comunidade.
       No mesmo dia, o ENCERRAMENTO DA CATEQUESE. O itinerário catequético conclui-se com 10 anos, com o sacramento da maturidade cristã, o Crisma; simbolicamente também o encerramento do ano catequético.
       Depois da Eucaristia, um lanche-convívio para crismandos e familiares, para catequisandos e para os membros da comunidade paroquial.

Mensagem do Papa Francisco aos jovens de Turim

      No dia 21 de junho, o Papa Francisco encontrou-se com os jovens, na Viagem Apostólica a Turim. Eis a mensagem que dirigiu aos jovens, válido também para cada um de nós e nossas comunidades:
Queridos jovens,

Agradeço-vos esta calorosa receção! E obrigado pelas vossas perguntas, que nos levam ao coração do Evangelho.
A primeira, sobre o amor, questiona-nos sobre o sentido profundo do amor de Deus, que nos é oferecido pelo Senhor Jesus. Ele mostra-nos até onde chega o amor: até ao dom total de si próprio, dando a sua vida, como contemplamos no mistério do Santo Sudário, quando nele reconhecemos o ícone do '' amor maior. " Mas este dom de nós mesmos não deve ser imaginado como um raro gesto heroico ou reservado para uma qualquer ocasião excecional.

Podemos de facto assumir o risco de cantar o amor, de sonhar o amor, de aplaudir o amor...sem deixarmo-nos tocar e envolver com ele! A grandeza do amor revela-se no cuidar das pessoas necessitadas, com lealdade e paciência; por isso é grande no amor quem sabe fazer-se pequeno para os outros, como Jesus, que se fez servo.

Amar é fazer-se próximo, tocar a carne de Cristo nos pobres e, nos últimos, abrir à graça de Deus as necessidades, os apelos, as solicitações das pessoas que nos circundam. O amor de Deus, assim, entra, transforma e torna grandes as coisas pequenas, torna-as sinal da sua presença. S. João Bosco é nosso mestre, precisamente, pela capacidade de amar e educar a partir da proximidade que ele vivia com os rapazes e os jovens.


À luz desta transformação, fruto do amor, podemos responder à segunda questão, sobre a falta de confiança na vida. A falta de emprego e de perspetivas para o futuro, certamente, ajuda o movimento da própria vida, colocando muitos na defensiva: pensar em si mesmos, gerir o tempo e os recursos de acordo com o seu próprio bem, limitar os riscos de qualquer generosidade...São todos sintomas de uma vida mantida e preservada a todo custo e que, no final, pode levar à resignação e ao cinismo.

Jesus ensina-nos, ao invés, a percorrer a estrada oposta: ‘Quem quiser salvar a sua própria vida perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por minha causa, salvar-se á’ (Lc 9:24). Isto significa que não devemos atender a circunstâncias externas favoráveis, ​​para metermo-nos, verdadeiramente no jogo, mas que, pelo contrário, apenas empenhando a vida – conscientes de perdê-la – criamos para os outros e para nós as condições de uma nova confiança no futuro.

E aqui os meus pensamentos vão espontaneamente para um jovem que realmente passou assim a sua vida, tornando-se um modelo de confiança e ousadia evangélica para as jovens gerações de Itália e do mundo: o Beato Pier Giorgio Frassati. Um dos seus lemas era: "Viver e não ir vivendo." Esta é a estrada para experimentar em plenitude a força e a alegria do Evangelho. Assim, não só encontrareis confiança no futuro, mas conseguireis gerar esperança entre os vossos amigos e nos ambientes em que viveis.

Uma grande paixão de Pier Giorgio Frassati era a amizade. E a vossa terceira pergunta, dizia exatamente: como viver a amizade de uma forma aberta, capaz de transmitir a alegria do Evangelho? Soube que esta praça nas noites de sexta-feira e sábado, é muito frequentada pelos jovens. Assim acontece em todas as nossas cidades e vilas.
Penso que alguns de vós encontrais-vos aqui ou noutros lugares com os vossos amigos. E então faço-vos uma pergunta – que cada um pense e responda dentro de si mesmo: nesses momentos, quando estais em companhia, conseguis fazer transparecer a vossa amizade com Jesus nas atitudes, no modo que vos comportamentais? Pensais, algumas vezes, mesmo no tempo livre, no lazer, que sois pequenos ramos ligados à videira que é Jesus?

Garanto-vos que pensando com fé nesta realidade, sentireis correr em vós a "força vital" do Espírito Santo, e levareis frutos, quase sem vos aperceberdes: sabeis ser corajosos, pacientes, humildes, capazes de partilhar, mas também de diferenciar-vos, de alegrar-vos com quem se alegra e chorar com quem chora, sabereis gostar de quem não nos quer bem, responder ao mal com o bem. E, assim, anunciareis o Evangelho!

Os Santos e as Santas de Turim ensinam-nos que cada renovação, mesmo aquela da Igreja, passa através da nossa conversão pessoal, através daquela abertura do coração que acolhe e reconhece as surpresas de Deus, impulsionado pelo amor maior (cf. 2 Cor 5 , 14), que nos faz amigos também das pessoas, em sofrimento e marginalizadas.

Queridos jovens, juntamente com estes irmãos e irmãs maiores que são os santos, na família da Igreja, temos uma Mãe, não nos esqueçamos! Desejo que confieis plenamente nesta terna Mãe que indicou a presença do '' amor maior "precisamente no meio dos jovens, nesta festa de núpcias. A Nossa Senhora "é a amiga sempre atenta, para que não venha a faltar o vinho na nossa vida" (ibid., N. Evangelii Gaudium, 286). Rezemos para que não nos deixe faltar o vinho da alegria!

Obrigado a todos! Deus abençoe todos vós. E, por favor, rezai por mim.

Um pai, as três filhas, e o sal


       Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua vez, qual era a mais sua amiga. A mais velha respondeu:
       – Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
       Respondeu a do meio:
       – Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.
       A mais moça respondeu:
       – Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
       O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.
       Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei, seu pai, e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não deitou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa por que é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha:
       – É porque a comida não tem sal.
       O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.

sábado, 20 de junho de 2015

Tabuaço | Festa das Bem-aventuranças | 2015

       A chegar ao final do ano catequético, a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição viveu mais uma festa da catequese, desta feita sublinhando as Bem-aventuranças, na Eucaristia de sábado, 20 de junho de 2015, com os adolescentes jovens do 7.º Ano de Catequese.
       Depois da introdução à Eucaristia e à Festa das Bem-aventuranças, feita pela catequista, o grupo deu destaque ao ofertório, com sinais e símbolos, o pão e o vinho, a bússola, a flor, a vela e a luz, a cruz. No momento de ação de graças uma flor para Nossa Senhora e uma oração.

Oração a Nossa Senhora das bem-aventuranças
Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa
Bem-aventuranda és Tu
porque acredistaste em tudo o que Te foi dito da parte de Deus.
Os teus dias não foram todos iguais:
Houve dias de dor e de aflição
Dias de alegria e conformação
Dias cizentos e de lágrimas
Dias de festa e de graças
Os teus dias não foram todos iguais!
Igual sempre a Tua confiança e abandono nas mãos do Pai.
Felizes seremos se em Deus colocarmos, como Tu, ó Mãe
a nossa confiança e a nossa vida.

Se, com humildade, soubermos acolher o que vem de Deus:
Faça-me em Mim segundo a Tua vontade...
Se com coragem escutarmos o que Tu nos dizes:
“Fazei tudo o que Ele vos disser”...
Certos que o que Jesus nos quer nos aproxima uns dos outros
Certos que o que Jesus nos pede, nada nos retira, ou nos castiga
Mas faz-nos ser bem-aventurados, felizes,
por nos gastarmos no melhor de nós
e darmos sentido aos dons e aos talentos que recebemos.

Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa
Que nos teus braços de Mãe, nos sintamos amados
e, como Tu, ó Mãe, nos demos por inteiro
para que também nós sejamos bem-aventurados!

Obrigado, Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja,
porque no Teu olhar nos encontramos como irmãos de Jesus
e nos assumimos como filhos Teus…
          Avé-Maria...

Fotos que registam e fixam esta celebração na vivência comunitária da fé:
Para ver a totalidade das fotos disponíveis,

Domingo XII do Tempo Comum - ano B - 21 de junho

       1 – «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?». Pergunta Jesus aos seus discípulos. Pergunta-nos também a nós. Depois de tantas situações que testemunhamos junto de Jesus, de verdadeiros milagres, curas e conversões, expulsão de demónios, vem a primeira tempestade e logo pensamos que Ele não se preocupa nem se ocupa de nós.
       É Jesus que vai ao leme. Ao cair da tarde, quando vem caindo a noite e quando a escuridão ativa o medo pelo desconhecido, pelo que não se vê e em que qualquer ruído nos assusta, Jesus ordena-nos: «Passemos à outra margem do lago». Não podemos resignar, ficando sentados à espera que a vida se resolva. Passemos à outra margem. Não fiquemos na segurança da terra firme, do nosso lado, no nosso cantinho, mas vamos ao encontro dos outros. A fé exige uma dose bastante de risco, de insegurança, ou, por outras palavras, de confiança e entrega nas mãos de Deus. Vamos para outros lugares. As coisas podem até não correr como expectável, mas Ele segue connosco. A Igreja não se fixa territorial e culturalmente num lugar, num povo ou numa época histórica, mas é chamada, constantemente, com os seus membros, a passar a outras margens, ir a outros lugares, levar o Evangelho às periferias existenciais, como insistentemente tem sublinhado o Papa Francisco: «Prefiro mil vezes uma Igreja acidentada, caída num acidente, que uma Igreja doente por fechamento! Ide para fora, saí!». A dimensão missionária da Igreja é imprescindível.
       Ao sairmos da nossa zona de conforto, corremos um maior risco de acidentes. Mas ficar quietos não é alternativa, sob pena de atrofiarmos, de ficarmos doentes, autistas, rapidamente.
       Tranquilo, Jesus adormece na barca. Por perto seguem outras barcas. Levanta-se grande tormenta. O mar está encapelado. O tamanho das ondas enche o barco de água. Os discípulos deixam-se vencer pelo medo de perecer e acordam Jesus: «Mestre, não Te importas que pereçamos?». Jesus acalma o mar e a tempestade: «Cala-te e está quieto». A intervenção de Jesus ultrapassa a nossa compreensão racional-positiva, mas insere-se na liberdade e na omnipotência de Deus. Só Deus é Deus e não O podemos encerrar nas nossas razões preconcebidas.


       2 – «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?». Se Jesus cala a tempestade, é possível que seja mais do que aparenta ser! «Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?».
       A fé não é estanque. É dom de Deus. Cada um de nós, com a sua história, as suas dificuldades, os seus traumas, acolhe a fé num contexto pessoal, familiar e profissional muito concreto. Há momentos em que a nossa fé é mais límpida, mais clara. Parece que Deus nos toca suavemente e nos guia. Há momentos que nada nos corre bem e começamos a temer, a duvidar, a hesitar. O chão foge-nos. A agitação da vida, da nossa vida, não nos deixa vislumbrar a beleza à nossa volta e o sol que brilha além e apesar das nuvens carregadas. A comunidade, como família, que nos acompanha e na qual nos inserimos, é de uma importância fundamental. Não estamos sós, mesmo humanamente falando. Outros barcos partilham do mesmo destino, das mesmas águas. Em conjunto havemos de acordar Jesus. Salienta-se a comunidade e a força da oração.
       Por mais esclarecida que seja a fé, engloba sempre a dúvida. Não é "pão, pão, queijo, queijo". Não é branco ou preto. Muitos santos passaram pela chamada "noite da fé", em que interrogaram Deus, como os discípulos: "Senhor, não Te importas que pereçamos?". Madre Teresa de Calcutá, numa das suas cartas, interroga-Se como Deus pode coabitar com a grandeza do sofrimento.


       3 – «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?».
       Este texto remete-me para as palavras de Bento XVI, nos últimos momentos do Seu profícuo pontificado. Antes, a 21 de junho de 1972, o Papa Paulo VI, no nono aniversário da Sua eleição, diante de situações menos fáceis na Igreja e no mundo, apelava à confiança em Deus, reconhecendo que "não é a nossa mão débil e desajeitada quem está no timão da barca de Pedro, mas sim a mão invisível, mas forte e amorosa do Senhor Jesus".
       Bento XVI utiliza a mesma imagem da barca, entregando o Seu pontificado e toda a Igreja nas mãos de Deus. "Nestes oito anos, vivemos com fé momentos belíssimos de luz radiante no caminho da Igreja, junto a momentos nos quais algumas nuvens pairavam no céu" (Bento XVI, 28 de fevereiro de 2013).
       Na véspera, na última Audiência Geral, a 27 de fevereiro de 2013, Bento XVI comunica-nos a fé e a confiança em Deus, apesar de tudo:
"Oito anos depois, posso dizer que o Senhor me guiou verdadeiramente, permaneceu junto de mim, pude diariamente notar a Sua presença. Foi um pedaço de caminho da Igreja que teve momentos de alegria e luz, mas também momentos não fáceis; senti-me como São Pedro com os Apóstolos na barca no lago da Galileia: o Senhor deu-nos muitos dias de sol e brisa suave, dias em que a pesca foi abundante; mas houve também momentos em que as águas estavam agitadas e o vento contrário – como, aliás, em toda a história da Igreja – e o Senhor parecia dormir. Contudo sempre soube que, naquela barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é d’Ele. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi e é uma certeza que nada pode ofuscar. E é por isso que, hoje, o meu coração transborda de gratidão a Deus, porque nunca deixou faltar a toda a Igreja e também a mim a sua consolação, a sua luz, o seu amor..."
       E prosseguia: "Deus guia a sua Igreja; sempre a sustenta mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Nunca percamos esta visão de fé… No nosso coração, no coração de cada um de vós, habite sempre a jubilosa certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está perto de nós e nos envolve com o seu amor. Obrigado!"

       4 – A palavra de Deus não disfarça as dificuldades que surgem no nosso caminho, a nível pessoal e comunitário, mas garante a presença de Deus como uma constante que nos ajuda a enfrentar as tempestades.
       Na primeira leitura, Job ouve a resposta de Deus: «Quem encerrou o mar entre dois batentes, quando ele irrompeu do seio do abismo, quando Eu o revesti de neblina e o envolvi com uma nuvem sombria, quando lhe fixei limites e lhe tranquei portas e ferrolhos? E disse-lhe: ‘Chegarás até aqui e não irás mais além, aqui se quebrará a altivez das tuas vagas’».
       É com esta confiança que rezamos ao Senhor: "Senhor, fazei-nos viver a cada instante no temor e no amor do vosso Santo nome, porque nunca a vossa providência abandona aqueles que formais solidamente no vosso amor" (oração de coleta), apoiados naqueles que nos precederam na fé: "Na sua angústia invocaram o Senhor e Ele salvou-os da aflição. Transformou o temporal em brisa suave e as ondas do mar amainaram. Alegraram-se ao vê-las acalmadas, e Ele conduziu-os ao porto desejado" (Salmo).

       5 – «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?».
       É fé não é uma abstração espiritual. É dom de Deus, que se acolhe e se cultiva. Não é tanto uma conquista ou usurpação, mas acolhimento de Deus na nossa vida, certeza que Deus nos acompanha nas diferentes situações da vida. Não é uma adesão irracional. É Luz que nos guia, envolvendo-nos por inteiro, também na nossa racionalidade. O próprio Jesus é Verbo (Logos – Razão) de Deus, que nos revela Deus. A fé em Deus traduz-se na ligação aos outros. Recebemos Deus para em Deus nos aproximarmos como família.
       Diz-nos o apóstolo São Paulo: "O amor de Cristo nos impele, ao pensarmos que um só morreu por todos e que todos, portanto, morreram. Cristo morreu por todos, para que os vivos deixem de viver para si próprios, mas vivam para Aquele que morreu e ressuscitou por eles".
       O amor como a fé é invisível, mas nem por isso é irreal ou irracional. É, com efeito, o que nos torna verdadeiramente humanos. É invisível, mas liga-nos, aproxima-nos, irmana-nos. O amor aprofunda-se na relação, na proximidade, no cuidado com os outros. Assim também a fé. Desenvolve-se na oração, na cumplicidade com Deus, que se historiza em Jesus Cristo, fazendo-Se um de nós e assumindo-nos como iguais, dando a vida por nós. A nossa fé enraíza-se na morte e ressurreição de Jesus, para n’Ele morrermos para o egoísmo e ressuscitarmos, como novas criaturas, e construirmos com mais amor a família de Deus.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (B): Job 38, 1. 8-11; Sl 106 (107); 2 Cor 5, 14-17; Mc 4, 35-41.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A cada dia basta o seu cuidado...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: «Não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem, quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste as sustenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Quem de entre vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à sua estatura? E porque vos inquietais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos inquieteis, dizendo: ‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos de vestir?’ Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isso. Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã tratará das suas inquietações. A cada dia basta o seu cuidado» (Mt 6, 24-34).
      Uma leitura mais atenção da Mensagem que Jesus dirige aos Seus discípulos para nos sentirmos também envolvidos na dinâmica da Palavra de Deus, tomando consciência que somos chamados e enviados em missão, colocando Deus em primeiro lugar, como prioridade, e n'Ele a nossa inteira confiança. Podem falhar os amigos, a riqueza material pode desfazer-se ou, em qualquer caso, não nos satisfazer, mas Deus nunca falha.
       Não é possível servir a dois senhores. A nossa opção clara, como cristãos, deverá ser servir a Deus e à Sua Palavra de perdão e de caridade, sem limites. Como discípulos procuremos primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, o resto, promete-nos Jesus, virá por acréscimo.
       Nos tempos que passam, a preocupação pelo futuro é significativa. No entanto, se a nossa concentração se focar apenas no amanhã, no futuro que a Deus pertence, corremos o sério risco de hoje não vivermos a nossa vida, de hoje não valorizarmos o que temos e sobretudo o que somos. A cada dia o seu cuidado. Jesus desafia-nos a vivermos o hoje, na certeza de que Deus é o nosso futuro e Ele assegurará o amanhã.
       As preocupações com o dia a dia não devem paralisar a esperança e o compromisso com a transformação do mundo em que vivemos. Façamos hoje o que temos a fazer. Façamo-lo bem, o melhor que soubermos e pudermos, para que ao avançarmos para amanhã tenhamos a certeza que tudo fizemos para sermos felizes e para que os outros descobrissem em nós a bênção de Deus.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Bento XVI - A Igreja é de Cristo

Última audiência Geral do Papa Bento XVI
Praça de São Pedro, Vaticano, 27 de fevereiro de 2013

Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado!
Ilustres Autoridades!
Amados irmãos e irmãs!

       Agradeço-vos por terdes vindo em tão grande número a esta minha última Audiência Geral.
       De coração, obrigado! Sinto-me verdadeiramente comovido e vejo a Igreja viva! E acho que devemos dizer obrigado também ao Criador pelo bom tempo que nos dá agora, ainda no Inverno.
       Como fez o Apóstolo Paulo no texto bíblico que ouvimos, também eu sinto em meu coração que devo sobretudo agradecer a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, que semeia a sua Palavra e assim alimenta a fé no seu Povo. Neste momento, alarga-se o horizonte do meu espírito e abraça toda a Igreja espalhada pelo mundo; e dou graças a Deus pelas «notícias» que pude receber, nestes anos de ministério petrino, acerca da fé no Senhor Jesus Cristo, da caridade que circula realmente no Corpo da Igreja e o faz viver no amor, e da esperança que nos abre e orienta para a vida em plenitude, para a pátria do Céu.
       Sinto que tenho a todos comigo na oração, num presente que é o de Deus, onde reúno cada encontro, cada viagem, cada visita pastoral. Reúno tudo e todos na oração, para os confiar ao Senhor, pedindo-Lhe que tenhamos pleno conhecimento da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual, e possamos comportar-nos de maneira digna d’Ele, do seu amor, dando frutos em toda a boa obra (cf. Col 1, 9-10).
       Neste momento, reina em mim uma grande confiança, porque sei, sabemos todos nós, que a Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida. O Evangelho purifica e renova, dá frutos por todo o lado onde a comunidade dos fiéis o escuta e acolhe a graça de Deus na verdade e na caridade. Esta é a minha confiança, esta é a minha alegria.


       Quando, no dia 19 de Abril de quase oito anos atrás, aceitei assumir o ministério petrino, uma certeza firme se apoderou de mim e sempre me acompanhou: esta certeza de que a Igreja vive da Palavra de Deus. Naquele momento, como já disse várias vezes, as palavras que ressoaram no meu coração foram: Senhor, porque me pedis isto…, uma coisa imensa!? Este é um grande peso que me colocais sobre os ombros, mas se Vós mo pedis, à vossa palavra lançarei as redes, seguro de que me guiareis, mesmo com todas as minhas fraquezas. E, oito anos depois, posso dizer que o Senhor me guiou verdadeiramente, permaneceu junto de mim, pude diariamente notar a sua presença. Foi um pedaço de caminho da Igreja que teve momentos de alegria e luz, mas também momentos não fáceis; senti-me como São Pedro com os Apóstolos na barca no lago da Galileia: o Senhor deu-nos muitos dias de sol e brisa suave, dias em que a pesca foi abundante; mas houve também momentos em que as águas estavam agitadas e o vento contrário – como, aliás, em toda a história da Igreja – e o Senhor parecia dormir. Contudo sempre soube que, naquela barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é d’Ele. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi e é uma certeza que nada pode ofuscar. E é por isso que, hoje, o meu coração transborda de gratidão a Deus, porque nunca deixou faltar a toda a Igreja e também a mim a sua consolação, a sua luz, o seu amor.


       Estamos no Ano da Fé, que desejei precisamente para reforçar a nossa fé em Deus, num contexto que parece colocá-Lo cada vez mais de lado. Queria convidar todos a renovarem a confiança firme no Senhor, a entregarem-se como crianças nos braços de Deus, seguros de que aqueles braços nos sustentam sempre e nos permitem caminhar todos os dias, mesmo no cansaço. Queria que cada um se sentisse amado por aquele Deus que entregou o seu Filho por nós e nos mostrou o seu amor sem limites. Queria que cada um sentisse a alegria de ser cristão. Numa bela oração, que se recita diariamente pela manhã, diz-se: «Eu Vos adoro, meu Deus, e Vos amo com todo o coração. Agradeço-Vos por me terdes criado, feito cristão...». Sim! Estamos contentes pelo dom da fé; é o bem mais precioso, que ninguém nos pode tirar! Agradeçamos ao Senhor por isso mesmo todos os dias, com a oração e com uma vida cristã coerente. Deus nos ama, mas espera que também nós O amemos!
       Mas não é só a Deus que quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho na condução da barca de Pedro, embora recaia sobre ele a primeira responsabilidade. Eu nunca me senti sozinho, ao carregar as alegrias e o peso do ministério petrino; o Senhor colocou junto de mim tantas pessoas que, com generosidade e amor a Deus e à Igreja, me ajudaram e estiveram ao meu lado. E em primeiro lugar vós, amados Irmãos Cardeais: a vossa sabedoria, os vossos conselhos, a vossa amizade foram preciosos para mim; os meus Colaboradores, a começar pelo meu Secretário de Estado que me acompanhou fielmente ao longo destes anos; a Secretaria de Estado e a Cúria Romana inteira, bem como todos aqueles que, nos mais variados setores, prestam o seu serviço à Santa Sé: são muitos rostos que não sobressaem, permanecem na sombra, mas precisamente no silêncio, na dedicação quotidiana, com espírito de fé e humildade, foram para mim um apoio seguro e fiável. Um pensamento especial para a Igreja de Roma, a minha diocese! Não posso esquecer os Irmãos no Episcopado e no Presbiterado, as pessoas consagradas e todo o Povo de Deus: nas visitas pastorais, nos encontros, nas audiências, nas viagens, sempre senti grande solicitude e profundo afecto; mas também eu amei a todos e cada um sem distinção, com aquela caridade pastoral que é o coração de cada Pastor, sobretudo do Bispo de Roma, do Sucessor do Apóstolo Pedro. Todos os dias tinha presente cada um de vós na oração, com o coração de pai.


       Depois, queria que a minha saudação e o meu agradecimento chegassem a todos: o coração de um Papa abraça o mundo inteiro. E queria expressar a minha gratidão ao Corpo Diplomático junto da Santa Sé, tornando presente a grande família das nações. Aqui penso também a todos aqueles que trabalham por uma boa comunicação, e agradeço-lhes o seu serviço importante.
       Neste momento, queria agradecer verdadeiramente do coração também às inúmeras pessoas, de todo o mundo, que nas últimas semanas me enviaram comoventes sinais de atenção, amizade e oração. Sim! O Papa nunca está sozinho, pude experimentá-lo agora mais uma vez e duma maneira tão grande que toca o coração. O Papa pertence a todos, e muitíssimas pessoas se sentem estreitamente unidas a ele. É verdade que recebo cartas dos grandes do mundo – dos Chefes de Estado, dos líderes religiosos, dos representantes do mundo da cultura, etc. –, mas recebo também muitíssimas cartas de pessoas simples que me escrevem simplesmente com o seu coração e me fazem sentir o seu afecto, que brota do facto de estarmos unidos com Jesus Cristo, na Igreja. Estas pessoas não me escrevem como se faz, por exemplo, a um príncipe ou a um grande que não se conhece; mas escrevem-me como irmãos e irmãs ou como filhos e filhas, com o sentido de um vínculo familiar muito afectuoso. Aqui pode-se tocar com a mão o que é a Igreja: não uma organização, uma associação para fins religiosos ou humanitários, mas um corpo vivo, uma comunhão de irmãos e irmãs no Corpo de Jesus Cristo, que nos une a todos. Poder experimentar a Igreja deste modo e quase tocar com as mãos a força da sua verdade e do seu amor é motivo de alegria, num tempo em que muitos falam do seu declínio. Mas vejamos como a Igreja está viva hoje!
       Nestes últimos meses, senti que as minhas forças tinham diminuído, e pedi a Deus com insistência, na oração, que me iluminasse com a sua luz para me fazer tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja . Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e também novidade, mas com uma profunda serenidade de espírito. Amar a Igreja significa também ter a coragem de fazer escolhas difíceis, dolorosas, tendo sempre diante dos olhos o bem da Igreja e não a nós mesmos.
       Permiti-me, aqui, voltar mais uma vez àquele 19 de Abril de 2005. A gravidade da decisão esteve precisamente no facto de que, daquele momento em diante, me comprometera sempre e para sempre com o Senhor. Sempre: quem assume o ministério petrino deixa de ter qualquer vida privada. Pertence sempre e totalmente a todos, a toda a Igreja. A sua vida fica, por assim dizer, totalmente despojada da dimensão privada. Pude experimentar, e estou a experimentá-lo precisamente agora, que um recebe a vida precisamente quando a dá. Eu disse, antes, que muitas pessoas que amam o Senhor, amam também o Sucessor de São Pedro e estão-lhe afeiçoadas; que o Papa tem verdadeiramente irmãos e irmãs, filhos e filhas em todo o mundo, e que se sente seguro no abraço da vossa comunhão; é assim, porque deixou de se pertencer a si mesmo, pertence a todos e todos pertencem a ele.
       Mas o «sempre» é também um «para sempre»: não haverá mais um regresso à vida privada. E a minha decisão de renunciar ao exercício ativo do ministério não revoga isto; não volto à vida privada, a uma vida de viagens, encontros, receções, conferências, etc. Não abandono a cruz, mas permaneço de forma nova junto do Senhor Crucificado. Deixo de trazer a potestade do ofício em prol do governo da Igreja, mas no serviço da oração permaneço, por assim dizer, no recinto de São Pedro. Nisto, ser-me-á de grande exemplo São Bento, cujo nome adotei como Papa. Ele mostrou-nos o caminho para uma vida, que, activa ou passiva, está votada totalmente à obra de Deus.
       Agradeço a todos e cada um ainda pelo respeito e compreensão com que acolhestes esta decisão tão importante. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja, através da oração e da reflexão, com aquela dedicação ao Senhor e à sua Esposa que procurei diariamente viver até agora, e quero viver sempre. Peço que me recordeis diante de Deus, e sobretudo que rezeis pelos Cardeais, chamados a uma tarefa tão relevante, e pelo novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Que o Senhor o acompanhe com a luz e a força do seu Espírito!
       Invocamos a materna intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja, pedindo-Lhe que acompanhe cada um de nós e toda a comunidade eclesial; a Ela nos entregamos, com profunda confiança.
       Queridos amigos! Deus guia a sua Igreja; sempre a sustenta mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Nunca percamos esta visão de fé, que é a única visão verdadeira do caminho da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de vós, habite sempre a jubilosa certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está perto de nós e nos envolve com o seu amor. Obrigado!


Saudação em português

Amados peregrinos de língua portuguesa, agradeço-vos o respeito e a compreensão com que acolhestes a minha decisão. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja, na oração e na reflexão, com a mesma dedicação ao Senhor e à sua Esposa que vivi até agora e quero viver sempre. Peço que vos recordeis de mim diante de Deus e sobretudo que rezeis pelos Cardeais chamados a escolher o novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Confio-vos ao Senhor, e a todos concedo a Bênção Apostólica.

Quando deres esmola, sê discreto...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique em segredo; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. Quando rezardes, não sejais como os hipócritas, porque eles gostam de orar de pé, nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando rezares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. Quando jejuardes, não tomeis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto, para mostrarem aos homens que jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não percebam que jejuas, mas apenas o teu Pai, que está presente no que é oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa». (Mt 6, 1-6.16-18).
       O bem não precisa de ser anunciado, fala por si. É um pouco como a LUZ. Não é necessário dizer que há luz, mas quando o espaço está bem iluminado é notória. O BEM propaga-se e testemunha-se. Jesus fala do bem, da oração, do jejum, que devem ser praticados não para os outros verem, mas para nos tornarem melhores e mais próximos uns dos outros.

sábado, 13 de junho de 2015

Tabuaço | Festa do Compromisso e Envio | 2015

       No dia 13 de junho de 2015, as jovens do 9.º Ano de Catequese, celebraram a Festa do Compromisso e envio. Num itinerário de 10 anos, encontram-se já nesta fase final da catequese, pelo que se encontram mais preparadas para assumirem a sua missão como cristãs, em Igreja e em concreto nesta comunidade paroquial. Alguns destes jovens já estão bastante comprometidos na vida da comunidade, no grupo coral, no grupo de jovens e nos acólitos, com a sua presença, entusiasmo e generosidade integram um grupo significativo de jovens cristãos envolvidos nas diferentes atividades pastorais.
       Celebração de compromisso, como o Evangelho encenado, de São Mateus (5, 13-19) - Sois o sal da terra... sóis a luz do mundo... compromisso de viverem e testemunharem o Evangelho de Jesus.
       Imagens deste dia festivo para este ano, mas sempre para a catequese paroquial e para toda a comunidade.

Para ver a totalidade das fotos disponíveis,