sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Festa do Batismo do Senhor - ano C - 10 de janeiro

       1 – «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência».
       Atravessámos a Porta da Misericórdia neste ano em que o Papa Francisco quis que toda a Igreja visualizasse de forma mais concreta e explícita a Misericórdia de Deus, que nos ama além de toda a justiça e de todo o pecado. "Misericordiosos como o Pai" foi o lema escolhido para enformar todo o Jubileu, cujo Rosto veio até nós, Jesus Cristo, assumindo a nossa natureza finita e frágil, enfrentando connosco a turbulência do ódio, da violência e do egoísmo, da inveja, da maledicência e do radicalismo desumano, da prepotência, do poder e da sobranceria, para connosco introduzir um tempo novo, de luz e de paz, de vida e salvação, de conciliação e de amor, de serviço e fraternidade, de comunhão e humildade, de justiça e de misericórdia, de esperança e de caridade, de abertura ao Transcendente, a Deus misericordioso que nos ama como Pai, com entranhas de Mãe, um tempo de verdade e de partilha solidária, de inclusão e resiliência, nunca desistindo das pessoas, lutando contra todas as manifestações do mal.
       «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência».
       O Céu abre-se para que a VOZ de Deus se faça ouvir. Com Jesus, Deus está mais perto de nós, tão perto que O podemos ver, tocar, O podemos perseguir, podemos apedrejá-lo e até matá-l'O. Deus está tão perto que Se esconde no meio de nós. Caminha connosco. Percorre ruas e vielas e avenidas que também percorremos, e sonhos e projetos de transformar o mundo e fazer com que todo o mundo seja uma só família e em que todos sejamos irmãos.
       A voz que vem de Deus diz-nos que Aquele Homem da Galileia (e da Judeia e do mundo inteiro) é o Filho, o Amado do Pai. É único para o Pai, pois todos aqueles que amamos são únicos para nós. Ama-O com todo o amor. Deus não Se dá aos pedaços, às prestações, ou sob condição em conformidade com o comportamento futuro. Como a Jesus, também a nós Deus nos ama. Ama-nos primeiro. Antes de o merecermos. Ama-nos por inteiro. Como a Jesus. Seremos, como Ele, filhos únicos e bem-amados.
       2 – A vida pública de Jesus inicia com o Seu Batismo. A nossa vida como filhos de Deus, como membros do Corpo de Cristo que é a Igreja, inicia com a inserção no Batismo de Jesus, tempo novo de graça e de salvação, novas criaturas, beneficiários da Misericórdia de Deus.
       Os textos do Evangelho, no seu conjunto, permitem intuir que Jesus já "testava" a pregação de tal que quando vai ao Jordão para ser batizado por João já a Sua fama se começava a espalhar. Não é uma pregação paralela, mas uma missão única de instaurar o Reino de Deus. João Batista, o Precursor, prepara o caminho. Jesus é o CAMINHO que nos encontra. O batismo marca um ponto de viragem que se acentua ainda mais com a prisão de João Batista. Só então, após o cárcere do Precursor, é que o Messias Se apresenta a todo povo.
       A postura de João Batista, o último na linhagem dos grandes Profetas de Israel do Antigo Testamento, e que nos faz entrar no Novo Testamento, a Aliança Nova e definitiva que se realiza em Jesus Cristo, leva a multidão a pensar que poderá ser ele o Messias há tanto esperado e prometido. João prepara o caminho, é a Voz que torna audível a Palavra de Deus que é Jesus Cristo. Aponta para o Messias: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele está antes, porque desde sempre é o Filho de Deus. É Ele que Eu anuncio. Foi por Ele que eu vim. Agora é necessário que Eu diminua e Ele cresça.
       Importante lição de João Batista. Poderia deixar andar e beneficiar da expetativa e do sucesso granjeado entre a multidão. Mas depressa lhe assenta o estômago: «Eu batizo-vos com água, mas vai chegar quem é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias. Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo».
       E lição importante de Jesus que se coloca na fila, sem passar à frente, ao largo ou ao longe, indiferente, sem Se colocar acima, à margem ou de fora, coloca-Se em fila e como parte daquele povo que se aproxima de João Batista para ser batizado. Tal como o povo, cuja pertença se torna evidente nesta passagem, também Jesus vai ao encontro de João e é batizado por ele.
       3 – Em todos os momentos significativos da vida de Jesus Cristo, a presença de Deus Pai, pela oração, pela inspiração, pela Voz do Espírito Santo. Nas palavras, nos gestos e nas obras. É um dos fios condutores do Evangelho e da missão evangelizadora de Jesus: sintonia com o Pai. O Meu Alimento, diz Jesus, é fazer a vontade de Meu Pai. Nada faço por Mim mesmo, digo o que Pai me diz, faço as obras de Meu Pai. Como vi fazer ao Pai, assim Eu faço. Mais tarde, no entardecer de Quinta-feira santa, o mandato aos seus discípulos: Como EU fiz, fazei vós também. É o caminho e compromisso com o amor, com o serviço, no cuidado terno ao semelhante que, n'Ele, se torna irmão de cada um de nós.
       Jesus ora. Orar pode ser mais que rezar. Rezar sublinha as palavras e o pensamento que dirigimos para Deus. Orar sublinha a escuta, procurando perceber o que Deus quer de nós, qual a Sua vontade a nosso respeito. Rezamos para Deus nos conceder o que lhe pedimos, mas em lógica de confiança a oração dilata o nosso coração para desejarmos o que Deus quer e acolhermos o que nos pede como filhos bem-amados.
       Enquanto levanta o olhar, o coração, a vida e o mundo para Deus, o céu abre-se e o Espírito Santo assume a forma corporal de uma pomba. E faz-se ouvir uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência».
       No Batismo de Jesus, e no nosso também, Deus está por inteiro, Pai e Filho e Espírito Santo, manifesta-Se totalmente e assume-nos por inteiro. Ele coloca em nós todo o Seu amor de Pai.
       4 – O profeta Isaías faz-nos ver e perceber melhor o enlevo, o agrado, o amor de Deus para com o Filho: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».
       O servo de Deus é o Povo eleito, que Deus formou para Si e para ser Luz das nações, bênção para todos os povos da terra.
       O Servo de Deus é Jesus, o Filho bem-amado do Pai, cuja missão é trazer a paz e a justiça, abrindo os olhos aos cegos, dando a liberdade aos cativos, iluminando os que habitam nas trevas, sem violência, mas pelo amor, pelo serviço, pela proximidade.
       O Servo de Deus somos nós, filhos bem-amados do Pai. Estamos sob a bênção de Deus, que nos ama e nos protege, que nos procura e nos encontra, fazendo-Se, em Cristo, um de nós, um connosco. Ao amor do Pai, Jesus responde com amor a favor de toda a humanidade, dando a Sua vida, entregando-Se por inteiro para nos devolver ao Coração de Deus Pai. A nossa resposta ao amor de Deus, visualizável e plenizável em Jesus, será para a frente: Deus precede-nos amando-nos, nós amamos Deus amando os irmãos. Só desta forma é verdadeiro o nosso amor para com Deus. Só desta forma respondemos com autenticidade ao amor de Deus esbanjado connosco desde a Encarnação à Cruz, desde o Batismo à Ressurreição.

       5 – São Pedro, na segunda leitura, aponta-nos o CAMINHO a seguir, acessível a todos, já que Deus não faz aceção de pessoas e, portanto, cada um de nós se habilita à Sua herança. Ele enviou-nos Jesus Cristo, Sua palavra, que nos anuncia e nos traz a paz. A condição é o temor/amor a Deus e a prática da justiça.
       A referência, o nosso CAMINHO, é Jesus Cristo, Enviado pelo Pai, ungido com a força do Espírito Santo, «que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele».
       Deus está connosco! Está no meio de nós. Avancemos fazendo o bem e sendo cura para todos os que vêm até nós. Partamos ao encontro uns dos outros.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano C): Is 42, 1-4. 6-7; Sl 28 (29); Atos 10, 34-38; Lc 3, 15-16. 21-22.

Sem comentários:

Enviar um comentário