sábado, 2 de janeiro de 2016

Solenidade da Epifania do Senhor - ano C - 03.01.2016

       1 – Todos os encontros podem deixar marcas em nós, mas contam verdadeiramente aqueles que nos tocam a alma e mudam a nossa vida. Há encontros casuais, passageiros, que nem chegam a roçar a roupa. Há pessoas que passam por nós e se mantêm ou mantemos à distância. Cruzamos olhares, passamos ao lado, indiferentes ou em atitude de desprezo. Encontros negativos também contam e também deixam as suas marcas.
       Há, porém, encontros que são decisivos e marcam definitivamente o rumo da nossa vida. Tocam o olhar, a pele, o coração, a alma, a vida. Se cada encontro pode influenciar-nos e enriquecer-nos, há aqueles que nos ajudam a ver a vida de um perspetiva diferente, a acreditar no amanhã, a depositar os nossos sonhos no futuro com esperança. Sentimos que chegamos a casa. Há estrelas que brilham no firmamento e nos atraiam para o melhor que a vida tem para nos dar.
       Os Magos vêm de longe. Mas não importa a distância. Deixam os seus livros, a sua casa, as suas coisas, a família e os amigos. Não importa tanto o que se deixa se nos dirigimos para algo maior e "nos" levamos connosco, com a nossa história. Quem fica, não fica perdido, pois se nos ama acompanhar-nos-á para onde formos e se alegrará com a nossa alegria. Ainda que custe! Os magos seguem com leveza e com pressa de chegar. É uma das características destes dias: Maria com pressa de chegar junto de Isabel; os pastores com pressa de chegar ao Presépio, e os Magos com pressa de adorarem o Deus Menino.
       2 – «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Quando não sabemos muito bem a direção é melhor parar e perguntar. O GPS – a estrela – levar-nos-á ao destino, mas a confusão da cidade pode distrair-nos do caminho.
       Herodes fica perturbado. O medo toma conta do seu coração. Habituou-se ao poder e não quer que nada ponha em causa a sua comodidade. Chama os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, informa-se acerca do local do nascimento do Messias, que segundo as profecias será «em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’».
       O alvoroço provocado pela notícia de que o Messias nasceu mobiliza Herodes e a cidade. Uns com boas intenções e outros nem tanto. A notícia que o Menino nasceu e está entre nós deve inquietar-nos, desinstalar-nos, levar-nos a querer saber mais, a descobrir onde O encontrar, para com os Magos O adorarmos e Lhe levarmos os melhores presentes.
        Na primeira leitura, Isaías convoca toda a cidade: "Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor".
       O mais triste é se estamos ao pé do sino e não ouvimos as horas, por habituação, por desleixo ou preguiça. Vêm de toda a parte. O alvoroço está instalado. Ficamos com Herodes, comodamente instalados à espera que as notícias nos cheguem aos ouvidos, ou seguimos com os Magos, para fora do palácio e da cidade, e vamos a Belém?
       3 – O Messias que estava para vir está no meio de nós. A esperança de Israel concretiza-se n'Aquele Menino há tanto esperado. Todos se hão de prostrar diante d'Ele porque d'Ele virá todo o bem.
       "Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes, os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas. Prostrar-se-ão diante dele todos os reis, todos os povos o hão de servir. Socorrerá o pobre que pede auxílio e o miserável que não tem amparo. Terá compaixão dos fracos e dos pobres e defenderá a vida dos oprimidos".
        São Paulo, sintonizado com o Salmo, mas sobretudo com Jesus Cristo, fala-nos desta graça que Deus lhe confiou a nosso favor, o mistério de Cristo. "Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho".
       O nascimento de Jesus é um acontecimento inaudito, Deus assume-nos por inteiro. A todos. Vem para o Seu povo, mas ao alcance de todos os povos, como relembra o Velho Simeão: «Agora, Senhor, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo» (Lc 2, 22-35).
       Os magos mostram que a Mensagem de Deus e os sinais da Sua presença no meio de nós chegam a toda a parte.
       4 – Logo que os magos se afastam do palácio, da cidade, e das distrações, a Estrela que os guia volta a estar visível. Por vezes precisamos deste exercício, de nos afastarmos um pouco, parando, rezando, refletindo a vida, distanciando-nos da árvore para vermos toda a floresta, fazendo silêncio para ver, para escutar, para perceber o que nos rodeia e que caminho havemos de retomar.
       "Eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra".
       A alegria é uma realidade que acompanha os magos e todos os que se deixam conduzir pela Estrela. Mas sobretudo, ALEGRIA de nos encontrarmos com Jesus. Os magos chegam finalmente onde se sentem em casa, junto de Jesus. E dão-lhe os presentes, simbólicos, a um tempo: ouro – realeza; incenso – divindade, e mirra – humanidade. Há mais alegria em dar do que em receber. E mais que dar, importa dar-se. É o que fazem os pastores, é o que fazem os magos. Dão o melhor que têm porque se querem dar fazendo-se presentes. E recebem o maior presente: Jesus, Deus Menino. E tudo muda.
        O encontro com Jesus fá-los voltar por outro caminho. "E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho". Herodes tinha-lhes pedido que regressassem ao palácio e lhe dessem informações precisas sobre o Messias. Inspirados por Deus, pelo encontro com Jesus, voltam mas por outro caminho. Também o nosso encontro com Jesus nos há de levar por outro caminho, não preferentemente ao palácio, mas ao mundo.
       "Senhor Deus omnipotente, que neste dia revelastes o vosso Filho Unigénito aos gentios guiados por uma estrela, a nós que já Vos conhecemos pela fé levai-nos a contemplar face a face a vossa glória".

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia: Is 60, 1-6; Sl 71 (72); Ef 3, 2-3a. 5-6; Mt 2, 1-12.

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