sábado, 23 de abril de 2016

5.º Domingo da Páscoa - ano C - 24 de abril de 2016

       1 – «Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».
       Durante a Última Ceia, Jesus fala-lhes do tempo em que não estará materialmente entre eles, deixando-lhes a síntese e o essencial da Sua mensagem. Para serem Seus discípulos, e reconhecidos como tal, terão de se amar uns aos outros como Ele os amou. É a única condição. Para eles e para nós, discípulos do mundo atual.
       2 – Um Pai, vendo aproximar-se a hora da morte, chamou os seus 10 filhos para lhes revelar os últimos desejos. Todos os filhos vieram para junto do seu leito. Pediu que cada um pegasse num vime, a começar pelo mais novo, e o partisse. Um a um, todos partiram facilmente o vime que lhe calhou em sorte. Depois pediu ao filho mais velho que pegasse em 10 vimes, os juntasse e os partisse ao meio. Tentou uma e outra vez, mas não conseguiu. Pediu que os outros filhos tentassem, mas nenhum obteve melhor resultado. Perguntou-lhes que lição a tirar desta experiência. Uma única conclusão: juntos é possível enfrentar os maiores obstáculos. A união faz a força!
       Quando um pai vai para longe, durante um certo período de tempo, chama os filhos e pede-lhes para se portarem bem e ajudarem nas tarefas de casa, para fazer os trabalhos da escola, para ajudarem a mãe. Ao mais velho pedir-lhe-á para ajudar a mãe a tomar conta dos irmãos e da casa.
       Quando alguém está para morrer, e sabe disso, chama os que que são mais próximos e manifesta-lhes o que ainda gostava de fazer e quais as suas últimas vontades. Quem lhe quer bem, tudo fará para concretizar os seus pedidos. Outra forma de o fazer é através do testamento, como partilha dos seus bens mas também de projetos que gostaria de ver realizados. Por exemplo, os Papas Paulo VI ou João Paulo II deixaram testamentos sobre alguns os poucos bens materiais e sobretudo os seus escritos, mensagens, o que gostariam que permanecesse do Seu ministério.
        O Testamento de Jesus é este: Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.
       3 – O que diz no final, Jesus viveu-o, amadureceu-o, experimentou-o ao longo de toda a sua vida. A família de Nazaré, como tantas famílias naquele tempo e naquela região, passou por diferentes situações que, por certo, ajudaram a amadurecer a união e a entreajuda, o acolhimento dos estrangeiros e a delicadeza para com os vizinhos. Durante algum tempo, Maria e José, e o Menino Jesus, refugiaram-se no Egito, regressando a Nazaré. Uma cidade-aldeia em que todos são vizinhos, e talvez todos com laços de sangue, e se auxiliam para sobreviver e enfrentar as dificuldades.
       Intuímos, facilmente, uma vida honrada, simples, com poucas coisas, de trabalho e muitas vezes de sacrifício. Vive-se com pouco. Os elevados impostos do Templo e do Império e das autoridades locais não permitem uma vida desafogada. Jesus cedo percebe as dificuldades mas também as injustiças infligidas às famílias de Nazaré, bem como a sobrecarga de leis e de preceitos. 613 Mandamentos, 365 negativos (correspondem aos dias do ano solar) e 248 positivos, tantos como os órgãos do corpo humano. Não seria fácil cumprir tantos preceitos, ainda que em Nazaré a influência do Templo e dos seus dirigentes não fosse tão sufocante como em Jerusalém.
       A delicadeza e a docilidade de Jesus vêm-lhe de um ambiente de fraterna entreajuda. Todos se envolvem nos problemas uns dos outros para ajudar. A sobrevivência, o pão de cada dia, depende desta solidariedade. Também aí se manifesta a fé e a confiança em Deus, o que lhes traz paz diante da prepotência dos dirigentes e os motiva para enfrentar as dificuldades. Lidam com estrangeiros que passam e que precisam de abrigo e de pão. A Lei "obriga" a acolher o peregrino, alimentando-o e, se estiver a cair a noite, abrigando-o, pois também eles foram estrangeiros em terras estrangeiras.
       4 – Durante os três anos de vida pública, Jesus age em conformidade com a educação recebida, com a cultura e a religiosidade do seu povo. A graça de Deus, a sabedoria, levam a valorizar a palavra dada, a ternura e compaixão como formas de criar laços de amizade. Percebendo as injustiças e a inutilidade de muitas leis, terá tudo isso em conta na hora de falar e sobretudo de agir. Coloca-Se do lado dos mais frágeis. Fez isso connosco. Como nos recorda o apóstolo, Ele deu a vida por nós quando éramos pecadores. Com efeito, a própria Encarnação significa a identificação com a humanidade, fez-Se pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza, assumindo a nossa fragilidade, gastando-Se na nossa finitude, para nos resgatar ao poder do pecado e da morte.
        Percorrendo os caminhos da Galileia e da Judeia, e da Samaria, indo às suas periferias, Jesus deixa um rasto de perfume, de atenção, de cuidado, de misericórdia. Não se assusta com o mal, com o pecado, ou com o sofrimento, cada pessoa que encontra Lhe lembram o Pai. A miséria das pessoas e das famílias continuam a ser um contraponto para lhes conceder paz, bênção e alegria. Tantos que são espoliados, escravizados, explorados, tantos que não têm lugar nos reinos deste mundo! Jesus dá-lhes prioridade. Agora choram e são perseguidos, mas serão bem-aventurados, porque Deus os ama acima de tudo e os quer no Seu Reino.
       Toda a mensagem de Jesus está condensada no mandamento do amor. Amar, servir, dar a vida, compaixão, proximidade, abaixamento. Modos de agir e de viver. Quem não serve para servir, não serve para viver. Eis que venho, ó Pai, para fazer a Tua vontade. Não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida por todos. Quem de entre vós quiser ser o maior, seja o servo de todos. Estou no meio de vós como quem serve. Quem não se tornar como criança, não entrará no Reino de Deus. O que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos a Mim o fazeis. Até ao fim, em todas as horas. Até na Cruz Jesus tem tempo para nós: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso. A glorificação de Jesus é a Sua paixão por nós. Tudo se encaixa na Sua entrega. A Sua ressurreição diz-nos que a Sua vida é o Caminho, a Verdade e a Vida se queremos alcançá-l'O e entrar na vida eterna.
       5 – Paulo e Barnabé prosseguem na missão de evangelizar. Permanecem em Antioquia durante um ano. Os membros desta comunidade, inspirados pelo Espírito Santo, enviam-nos para outras terras para anunciarem o Evangelho e formarem discípulos, cumprindo desse modo o mandato de Jesus: ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho as todas as gentes.
        Serão muitas as provações a que estão sujeitos os que se convertem a Cristo e ao Seu Evangelho. Paulo e Barnabé exortam à fidelidade em Deus. Nas comunidades, para que estas não fiquem abandonadas, estabelecem anciãos, sob a ambiência da oração. Atravessam a Psídia e a Panfília, anunciam a Palavra em Perga e descem a Atalia, para regressarem a "Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para a obra que acabavam de realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé".
       A palavra de Deus que nos é dado escutar neste domingo mostra como a obra da evangelização é de Deus. Mas Deus conta connosco, com a nossa vida, o nosso compromisso, a nossa alegria, o nosso empenho. Deus comunica-Se através de nós.
       Confiemo-nos ao Senhor nosso Deus, que nos enviou o Salvador e nos fez Seus filhos adotivos. Peçamos-Lhe: "Atendei com paternal bondade as nossas súplicas e concedei que, pela nossa fé em Cristo, alcancemos a verdadeira liberdade e a herança eterna".
        6 – São João, no Apocalipse, faz-nos ver um novo céu e uma nova terra, "a cidade santa, a nova Jerusalém, que desce do Céu, da presença de Deus, bela como noiva adornada para o seu esposo”. É «a morada de Deus com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; nunca mais haverá morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo antigo desapareceu»
       Com Jesus, Deus renova todas as coisas e faz-nos participantes da Sua vida. Acolhendo a Sua Palavra, realizando as Suas obras, assumindo-nos como discípulos, cabe-nos, seguidamente, levar a outros esta Boa Notícia, para que todos se encontrem, se descubram e vivam como filhos bem-amados de Deus, novas criaturas, identificáveis pela caridade e pelo perdão, pelo serviço e auto doação, transparecendo o Mestre da Docilidade.

Pe. Manuel Gonçalves

Textos para a Eucaristia (C): Atos 14, 21b-27; Sal 144 (145); Ap 21, 1-5a; Jo 13, 31-33a. 34-35.

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