terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus - 1-1-2014

       1 – Iniciamos o novo Ano com o belíssimo quadro do presépio de Belém, ainda Natal, Maria e José diante do Menino que colocam à adoração do mundo. Os pobres são os primeiros, ou os únicos, a reconhecer Jesus como Filho de Deus, como Luz, o Enviado das alturas. Aquele Menino é uma joia que move corações, que enche toda a casa, como cada criança poderia e deveria encher as nossas casas,as nossas famílias. Desafio permanente, de ontem e de hoje: acolher Aquele que nasce como bênção para nós e para o mundo. Ainda havemos de ver alguns que passam à frente, ou indiferentes, ou se deixam ficar em seus lugares, como Herodes no Palácio, ou os Escribas no Templo, e com eles outros aduladores do poder, da segurança e do prestígio, esquecendo o essencial: o amor sincero e puro, simples e transparente.
       Há os que ouvem e se deixam ficar. Há os que nem sequer ouvem. Lá longe, os Magos, descobrem uma estrela nova. Ocupados com o saber, atentos ao que se passa no mundo, põem-se a caminho em busca de um Menino. Antes, os pastores. Estão alerta. Conhecem a natureza e o que ela lhes reserva, de bom e de mau. Pouco têm e são tidos em pouca conta. Excluídos, fazem um trabalho serviçal. Emprestam à Sagrada Escritura uma das mais belas imagens para falar de um Deus próximo, como Bom Pastor, que caminha com as suas ovelhas, dá a vida por elas, conhece-as pelo nome. Os pastores ouvem o Anjo. Não pensam duas vezes. Não fazem cálculos. Partem para Belém. Apressadamente. Como Maria quando sabe que a Sua prima Isabel está grávida. Como José, que ainda de noite pega em Maria e no Menino e vai para o Egipto.
       A Boa Nova para hoje: “Encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado”.
       2 – Pessoas simples e despretensiosas. Chegam e alegram-se. E desbobinam. Contam tudo. É uma notícia alegre, feliz, não podem calar por mais tempo o que guardam com esperança no coração. Pode faltar tudo ao cristão, não falte a capacidade de se deixar surpreender por Deus, a capacidade de se rir, de se alegrar, de se maravilhar com a vida.
       Fixemos o nosso olhar nos pastores para os seguirmos na adoração do Menino e no testemunho de tudo o que ouvimos no nosso coração e o que vemos junto ao Presépio. Regressam às suas vidas, louvando e glorificando a Deus. Aquele encontro com o Menino, com Maria e José, encheu-lhes o coração de alegria. Doravante... continuarão a ser pastores. Mas aquela alegria há de acompanhá-los até à morte. E quando estiverem mais cansados hão de lembrar-se do sorriso d'Aquela criança.
       Voltemos agora o nosso olhar para Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa. Com José, Maria continua a cuidar o melhor que sabe do Seu Menino, que não é Seu de todo, nasceu d'Ela mas não lhe pertence. Agora os pastores, depois os Magos, os discípulos, as multidões, o Reino de Deus, a morte... e a vida!
       Ela guarda tudo no coração. A primeira atitude dos cristãos é a adoração, e o silêncio orante. Os pastores prostram-se diante de Jesus. Assim os magos. Assim Maria. Assim cada cristão. Só na adoração de Deus o nosso coração adquire o tamanho necessário para acolher o outro como irmão.
       Aquele Menino é uma bênção. Para a família de Nazaré. Para a humanidade inteira.
        3 – Jesus, Deus entre de nós, vem para nos resgatar do pecado e da morte. “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus”.
       A Encarnação de Deus visa assumir-nos por inteiro, na nossa fragilidade e na nossa finitude. Ele é um de nós. Nasce de uma MULHER, é "fruto" da terra e do Espírito de Deus. Só é redimido o que é assumido. Jesus assume-nos como irmãos. Temos o mesmo Pai. Mas se dúvidas existissem, Ele dá-nos Maria por Mãe. “Eis o teu filho; eis a tua Mãe” e dessa hora, a hora da morte de Jesus, o discípulo recebe-A em sua casa. Hoje somos nós os discípulos de Jesus. É a nós que Ele nos confia a Sua Mãe. É a Maria que Ele nos confia como filhos. Recebamo-l'A com carinho em nossa casa, para que, tendo-A por Mãe, nos sintamos realmente irmãos uns dos outros.
       Atente-se nas palavras do papa Francisco, na Sua Mensagem para este Dia Mundial da Paz: “Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do outro”.
        O Papa evidencia o fundamento da fraternidade: Deus, que é Pai de todos. Só nos entenderemos como irmãos se antes nos reconhecermos filhos do mesmo Pai, do mesmo Deus. Nesta casa que é o mundo, o chão que nos irmana, precisamos da ternura e da delicadeza de uma Mãe, para nos empenharmos mais, e mais, e mais, edificando a concórdia, como fruto do amor, do diálogo, da compreensão, e do esforço por sublinharmos o que nos pode enriquecer mutuamente, os dons de cada um, para o bem de todos.
       4 – Desde que nos criou por amor que Deus nos procura e vem até nós para suscitar a busca da felicidade, desafiando-nos para o bem. A Encarnação do Verbo, Deus que Se faz carne, é a plenitude da bênção prometida para todos os povos da terra. N'Ele serão abençoadas todas as nações.
       É uma promessa que vem de trás, explicitada por Deus a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».
       Ao iniciarmos um novo ano, renovamos a esperança e confiança no amanhã. Deus vem, Deus nasce em nós e no mundo, Deus manifesta-Se próximo, amigo, Pai, Irmão, faz parte da nossa família, faz família connosco. Rezemos uns pelos outros: “Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto”. 
       Que a Virgem Imaculada, Mãe de Deus, não cesse de nos despertar da sonolência e nos conduzir a Jesus Cristo, Seu Filho, o Príncipe da Paz, para n’Ele nos assumirmos como irmãos, estreitando os laços de amizade e parentesco espiritual. Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós.

Textos para a Eucaristia (ano A): Num 6, 22-27 ; Sl 66 (67); Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21.

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